sábado, 11 de outubro de 2008

O Rompimento da Ordem Estabelecida por Deus - 11/10/2008 a 11/10/2008

RESUMO SEMANAL - 05/10/2008 a 11/10/2008

Crise Cósmica: Ruptura da Ordem Universal

Pr. João Antonio Alves Professor de Teologia do IAENE

Por quê? Depois deste advérbio seguem-se os complementos mais variados, que expressam dilemas, dores, angústias, sofrimento, etc., dos seres humanos neste Planeta. Mas existe um “por quê” que precede aqueles acima indicados. É o “por quê” inicial, que precede os “por quês” vinculados com a experiência humana. Podemos formular a questão desta maneira: “Por que existe o mal no mundo?” Infelizmente, não há uma resposta satisfatória à pergunta. De acordo com o apóstolo Paulo, esta questão envolve o “mistério da iniqüidade” (2Ts 2:7). Neste caso, não é possível uma explicação racional, que satisfaça todas as dúvidas. Tudo o que se pode dizer é aquilo que está revelado.

Mas nem sempre o que foi revelado é satisfatório para as mentes mais inquiridoras e que, freqüentemente, exigem uma explicação mais detalhada. Não obstante, as Escrituras são muito claras com respeito a alguns aspectos que devem orientar nossa reflexão sobre o tema em estudo. Embora seja um enigma que não pode ser plenamente desvendado, há uma certeza que está além de toda dúvida: Deus não é o autor do pecado. Além disso, não se pode argumentar com base nos atributos divinos de onipotência, onisciência, que Deus, de alguma forma, seja responsável pelo pecado. A advertência de Tiago é apropriada com respeito a isto: “Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e Ele mesmo a ninguém tenta. Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz” (Tg 1:13-14).

Como visto na lição anterior, Deus é santo, e Sua santidade impede que Ele tenha qualquer relação com o pecado, seja com seu início ou com quaisquer de suas conseqüências. Mas a pergunta continua ressoando: como teve origem o pecado? A Bíblia, mais uma vez, é bastante econômica ao tratar do assunto. Contudo, encontramos algumas evidências que apontam para sua origem em algum momento distante, anterior à criação do homem, envolvendo os seres angelicais, e só posteriormente atingindo o nosso planeta.

Pecado: Sua Origem

Somente a Divindade possui o atributo da eternidade. Sendo assim, o pecado não co-existiu com Deus, pois é um elemento estranho à santidade divina que se introduziu em algum momento no Universo, perturbando a paz e harmonia existentes. Esse desequilíbrio, teologicamente definido como “pecado”, está vinculado a um ser pessoal, descrito pelo profeta Ezequiel como um querubim. Os querubins estavam mais próximos de Deus que quaisquer outros dos seres angelicais. Dois deles foram colocados como guardiões junto à entrada do Éden (Gn 3:24). Um par, feito de ouro, foi colocado sobre a arca da aliança (Êx 25:18-20). A posição dos querubins na arca ilustra a posição elevada desses seres, que permaneciam à luz da presença de Deus na Sua habitação (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 758). Portanto, o pecado teve origem em um ser celestial que estava muito próximo ao trono de Deus.

No texto de Ezequiel, o querubim é descrito como um ser perfeito: “Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado...”; “Tu és o sinete da perfeição...” [perfeita obra de arte] (Ez 28:15, 13). Mas não está Ezequiel apresentando uma profecia contra o rei de Tiro? Por que atribuir a profecia a algum ser não deste mundo? Uma análise do contexto revela que, aqui, o personagem histórico está fora de questão. Observe que ele é descrito como um querubim (v. 14), um ser supraterrenal, que está vinculado à esfera celestial. Ademais, a afirmação de que o querubim estava “no Éden, jardim de Deus” (v. 13) e que permanecia “no monte santo de Deus” (v. 14) é uma evidência de que o profeta não está se referindo ao rei histórico de Tiro. Finalmente, não parece provável que o profeta atribuiria qualquer tipo de perfeição a um rei humano ou que em algum momento ele não tivesse qualquer iniqüidade (v. 15). Dadas estas considerações, parece muito claro que, em palavras proféticas, o profeta descreve o início do drama do pecado no Universo.

O conflito cósmico é muito sério. Seu início envolveu os seres inteligentes mais elevados criados por Deus – os anjos celestiais. Entre eles, começou com um nobre anjo, um querubim cobridor, que assistia na presença de Deus. Algumas expressões usadas por Ezequiel permitem concluir que o conflito ocorreu no próprio santuário de Deus. A própria definição do personagem como “querubim cobridor” remete para o lugar santíssimo do tabernáculo terrestre, onde se encontravam dois querubins sobre a arca da aliança (Êx 28:14; 25:20). Perceba também a referência ao “Éden, jardim de Deus” (v. 13), que funcionava, de alguma forma, como um santuário. Além do mais, no mesmo verso são mencionadas por Ezequiel nove pedras. Dessas, sete aparecem em conexão com o Jardim de Deus e com as pedras no peitoral do sumo-sacerdote. As referências ao “monte santo” e “monte de Deus” (v. 14, 16) também estabelecem vínculos com o santuário.

Portanto, o pecado teve origem no próprio Céu, no santuário de Deus, no lugar santíssimo do santuário celestial. Que presunção! Que rebeldia! Que tragédia para o querubim, para seus seguidores e, tristemente, para os moradores da Terra!

Ataque contra Deus

O querubim cobridor não estava satisfeito com a posição que ocupava. Assistir na própria presença de Deus não lhe era suficiente. Em seus projetos pessoais ainda faltava alguma coisa. Almejava ainda mais. Ser grande, talvez o maior entre seus iguais, não o satisfazia. Em sua pretensão, planejou tomar de assalto o “monte da congregação” (Is 14:13), o lugar da morada de Deus, onde era adorado antes da entrada do pecado, e onde também aconteciam as reuniões da assembléia celestial (como a mencionada em Jó), e o lugar da guerra cósmica. No texto de Isaías, o querubim é identificado como a “estrela da manhã”, que conduziu sua rebelião na esfera celestial e, como conseqüência, foi expulso do Céu, à semelhança do relato de Ezequiel.

O que pretendia o querubim cobridor, a estrela da manhã? “Eu subirei ao Céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo” (v. 13, 14). Observe a ocorrência do pronome pessoal “EU” – cinco vezes: “EU subirei”, “EU exaltarei”, “EU assentarei”, “EU subirei”, “EU serei”. Ser semelhante ao Altíssimo, exaltação de um trono, assentar-se no monte da congregação... Todas essas referências apontam para o desejo de auto-exaltação de um ser originalmente sem pecado: posição, poder e glória. Em suma, pretendia usurpar a posição de Deus. Ezequiel 28:15 afirma que nele foi encontrada “iniqüidade”, ou “maldade” (NVI). Essa palavra no Antigo Testamento pode ser usada para representar duplicidade, ambição profana, mentira, apostasia. Ezequiel também disse: “Seu coração tornou-se orgulhoso” [Heb. gabah, ‘ser elevado’, ‘ser exaltado’ (Ez 28:17, NVI)]. Ser orgulhoso inclui imaginar-se maior do que realmente se é, ou considerar-se superior aos outros. Também pode levar a um comportamento que ignora a vontade de Deus (Sl 10:4; Jr 13:15) e que se opõe ao próprio Deus (Ez 28:2). Pode-se facilmente concluir que o querubim caído estava sendo desleal a Deus, atacando-O, dizendo mentiras e agindo de maneira enganosa.

Na tentação conduzida no Éden, Satanás apresentou aquilo que ele mesmo ambicionara: ser como Deus (Gn 3:5). Utilizando argumentos bem elaborados, apresentou um quadro desfavorável de Deus, retratando-O como egoísta, que procurava reter para Si somente o que de melhor havia, sob o disfarce de um interesse pelos seres humanos. Dessa forma, enganou Eva, e o pecado foi introduzido no mundo. (Estamos nós duvidando dos propósitos de Deus para nossa vida? Confiamos em Sua Palavra? Moldamos nossa vida segundo o que Ele nos revelou? Ou, como Eva, estamos seguindo as sugestões do inimigo?)

Essa mesma atitude satânica seria assumida pelo poder político-religioso simbolizado na profecia de Daniel como um “chifre pequeno” (Dn 8). Nesse capítulo, o chifre pequeno, em sua carreira e auto-exaltação, “cresceu até atingir o exército dos Céus;... sim, engrandeceu-se até ao Príncipe do exército [ou seja, Jesus]; dEle tirou o sacrifício diário [isto é, o ministério que Jesus conduz no santuário celestial em favor de Seus fiéis],... por causa das transgressões [o chifre agiu de forma transgressora contra Jesus]; e deitou por terra a verdade [a verdade acerca do santuário, do ministério de Cristo, etc.]” (Dn 8:10-12). Resumindo, o poder político-religioso simbolizado pelo chifre pequeno estabeleceu neste mundo um sistema rival de salvação, desviando o olhar dos pecadores do verdadeiro Sumo-sacerdote, que conduz Seu ministério no santuário celestial em favor da humanidade. Neste caso, o chifre não passa de um representante de Satanás em sua contínua controvérsia com o Céu, manifestando as mesmas características de ambição, poder e exaltação.

Contraste o desejo de Satanás com a afirmação de Paulo de que Cristo, “subsistindo em forma de Deus [ou seja, possuindo características essenciais e atributos de Deus], não julgou [i.e., considerou] como usurpação o ser igual a Deus [ou, continuar existindo em igualdade com Deus]; antes a Si mesmo Se esvaziou, assumindo a forma de servo... a Si mesmo Se humilhou... até a morte” (Fp 2:6-8).

“Houvesse na verdade Lúcifer desejado ser semelhante ao Altíssimo, e nunca teria perdido o lugar que lhe fora designado no Céu; pois o espírito do Altíssimo manifesta-se em abnegado ministério. Lúcifer desejava o poder de Deus, mas não o Seu caráter” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 435.)
É correto desejar ser como Deus? Pela citação de Ellen G. White , sim: ser como Deus em caráter e abnegado ministério.

O pecado e a Lei de Deus

Na definição de João, “pecado é a transgressão da lei” ou “ilegalidade” (NVI). Entretanto, se a lei é equivalente ao caráter e vontade do Legislador, segue-se que o pecado é uma transgressão, ou rebelião, deliberada contra a “vontade”, ou a pessoa, do Criador/Legislador. O pecado adquire características pessoais. Não é algo definido simplesmente como a não-observância de algum preceito; é relacional. Desta forma, o pecado é o rompimento de uma relação, por absoluta decisão do transgressor, de rejeitar a autoridade divina, não submeter-se a Seu governo, e abertamente violar os mandamentos de Sua vontade. O conflito cósmico se dirige contra Deus e contra o que Ele é em Si mesmo. Paulo descreve o anticristo escatológico do tempo do fim como “o homem da ilegalidade” (2Ts 2:3, NIV).

No jardim do Éden, os primeiros pais decidiram usar sua liberdade de forma contrária à clara vontade revelada de Deus. A ordem de Deus foi bastante explícita: é permitido comer de tudo no jardim, com apenas uma exceção: a árvore do conhecimento do bem e do mal. A conseqüência de não atender a essa orientação divina foi também anunciada de forma inequívoca: no dia em que comer, o resultado certo é a morte. O teste, em sua essência, envolvia obedecer ou desobedecer a Deus. Amor e lealdade. Não parecia difícil. Afinal, Deus liberou, por assim dizer, 99,9% de tudo o que havia no jardim para a satisfação do homem. Mas aquela ínfima parte proibida foi usada por Satanás em sua tentativa de levar o homem a se declarar independente de Deus. Se Deus é a fonte e o mantenedor da vida, todos os seres criados dependem dEle para continuar existindo. Portanto, declarar-se independente de Deus é rebelar-se contra o único Ser que pode conceder tudo de que o homem necessita. É conquistar uma falsa liberdade. Enquanto desfruta sua suposta liberdade, o homem está, de fato, escravizado pelo pecado. Em vez de voltar para Deus, ele transita por um caminho que conduz a sua própria destruição. É, literalmente, cavar com as próprias mãos o túmulo da eterna destruição. No relato de Gênesis, encontramos uma similaridade com o de Ezequiel: o primeiro casal estava no Éden; era perfeito, sem pecado, sem inclinação para o mal; aspirou ao que não lhe pertencia; rebelou-se contra Deus; foi também expulso.

Hoje a situação é a mesma. Deus revela Sua vontade em Sua Palavra. Temos à nossa disposição uma infinidade de coisas, atividades, que podem contribuir para nossa satisfação e realização. Outras não deveriam ser experimentadas, não porque Deus queira impedir alguém de desfrutar algo especial, mas porque essas restrições revelam Seu terno amor e cuidado por Seus filhos. Seguir a vontade de Deus revela de que lado estamos, a quem amamos, a quem somos fiéis. Se a Deus, então, consideramos um privilégio e alegria fazer Sua vontade. Somos verdadeiramente livres, pois o Filho nos libertou das cadeias do pecado e nos faz desfrutar a verdadeira liberdade que o evangelho traz.

Guerra no Céu

Em Apocalipse encontramos referência a uma guerra no Céu (Ap 12:7). Que estratégia utilizou o inimigo contra Deus? O texto de Ezequiel nos esclarece alguns pontos importantes, a partir de termos empregados pelo profeta. A primeira palavra é “comércio”, que mostra o envolvimento do querubim em um “amplo comércio” (Ez 28:16 NVI). A palavra traduzida como comércio também pode ser traduzida como “calúnia”, sugerindo que, no Céu, Lúcifer estava envolvido em apresentar falsas acusações contra Deus. Calúnia é o ato de falar mal com intenção de prejudicar a reputação de outros, e pode descrever o comportamento de uma pessoa que escolheu ignorar a vontade de Deus e que se põe sob o juízo divino (Lv 19:16; Jr 6:28-30). Resulta em divisão e desordem (2Co 12:20). Satanás é descrito na Bíblia como o acusador ou caluniador do povo de Deus, o adversário (Zc 3:1; Ap 12:10). Satanás não se manteve “na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8:44).

Essa calúnia levou Satanás à “violência”, a segunda palavra importante (Ez 28:16). Violência se refere a um comportamento anti-social que viola a ordem estabelecida de Deus. É motivada pelo ódio ou egoísmo e pode levar a ataques físicos e sociais. Em alguns casos, termina em assassinato ou na exploração dos outros para benefício pessoal (Gn 49:5; Mq 6:12). Satanás foi “homicida desde o princípio” visto que introduziu a violência e a morte na criação de Deus (Jo 8:44).

Como resultado da conduta contra Deus, sua ação culminou em um ataque aberto contra Deus e Seu Filho. O que, a princípio, estava escondido, logo se tornou visível, criando confusão e desordem. Houve guerra no Céu. Esse foi o início do conflito cósmico em que todos estamos envolvidos. Satanás e seus partidários foram derrotados no Céu, na cruz, e serão extintos do Universo no tempo apropriado. A solução do problema do pecado não só restaura a raça humana caída a uma união perfeita e permanente com Deus, mas restaurará perfeita harmonia moral ao longo de toda a criação de Deus. A morte de Cristo na cruz revelou o verdadeiro caráter de Satanás. Ao mesmo tempo, revelou o amor de Deus pela humanidade rebelde, pecadora, e abriu o caminho para o retorno ao lar paterno.

Uma cosmovisão bíblica, que compreende o conceito do grande conflito como a moldura dentro da qual se inserem todos os acontecimentos envolvendo o ser humano, tanto do passado, como do presente e futuro, permite que tenhamos uma visão ampla, abarcante e compreensiva da realidade. Tal visão resulta em uma compreensão, ainda que limitada, de realidades que transcendem nosso mundo. Somos sabedores de que Deus criou seres inteligentes, tanto no Céu como na Terra, com liberdade de escolha, ou livre-arbítrio. Tais seres poderiam escolher aliar-se a seu Criador ou rebelar-se contra Ele. Tristemente, a escolha de alguns foi na direção contrária à da vontade de Deus, o que resultou em um mergulho fatal nas águas revoltas do pecado, trazendo consigo toda a dor e sofrimento em que se debate a humanidade.

A controvérsia moral, que invadiu o Universo criado por Deus, está estreitamente vinculada à doutrina da expiação. Apesar de toda a escuridão que envolve o mundo, com todos os seus males, essa doutrina ilumina a vida humana com a certeza da libertação do domínio do pecado e provê uma resposta às acusações dirigidas por Satanás contra Deus. Mas o conflito cósmico não deve ser visualizado tão-somente de uma perspectiva histórica, de algum acontecimento no passado distante. Ao contrário, devemos estar conscientes de que, dentro de cada um de nós, está sendo travada a mesma controvérsia moral como aquela que ocorre no nível cósmico. Diante dessa realidade, é importante que cada um tome diariamente a decisão livre de conhecer e praticar em sua vida a vontade de Deus, mostrando claramente de que lado se encontra neste grande conflito cósmico!

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