sábado, 4 de outubro de 2008

Resumo Semanal: A Expiação e a Cruz de Cristo - 04/10/2008 a 04/10/2008

RESUMO SEMANAL - 28/09/2008 a 04/10/2008

A natureza de Deus: base da expiação


Pr. João Antonio Alves
Professor de Teologia do IAENE

A doutrina da expiação apresenta um mistério essencial: seus beneficiários não podem compreender plenamente como opera. A partir do final do século 11, a doutrina da expiação adquiriu posição central na teologia cristã. Embora os teólogos concordem com relação à sua centralidade, existe grande diversidade de posições a respeito de sua interpretação. Entretanto, alguns aspectos são esclarecidos pelas Escrituras, aos quais se deve dar atenção a fim de melhor compreender esta doutrina. Em grande medida, ela determina outras doutrinas. Para muitos estudiosos, o termo “expiação” descreve o ato salvífico de Deus em Cristo que efetua a reconciliação do homem com Deus.

Apesar da diversidade de interpretações, entretanto, a expiação é um ato de Deus em Cristo. Desta forma, é natural nos voltarmos para a pessoa de Deus a fim de iniciar o estudo acerca de um tema de tamanha relevância, não apenas do ponto-de-vista teológico, mas também da perspectiva prática. Com respeito a esse último aspecto, é da maior importância saber que as mais profundas necessidades da vida do ser humano não estão relegadas a um acaso cego, ou sorte, ou destino, ou azar. Deus assumiu o “controle dos danos” provocados pelo pecado. Por esta razão, apesar de tudo, podemos viver com fé, esperança e amor, em vez de submergir na ansiedade, no temor, na desesperança. O futuro se nos afigura brilhante, apesar das trevas que insistem em ocupar o horizonte da existência humana.

E que Deus é este que Se envolveu na maior operação resgate do Universo? Que atributos possui que O qualificam para a missão? Alguns aspectos acerca desse Deus, o Deus revelado nas Escrituras, serão analisados nesta primeira lição. Outros aspectos do programa divino para a salvação do ser humano serão vistos nas lições posteriores.

1. Deus eterno


As Escrituras declaram a existência de Deus “no princípio” (Gn 1:1). Não procuram “provar” essa existência. Tão-somente a declaram. Simples assim. Ao mesmo tempo, uma declaração tão singela provoca discussões intermináveis. Não porque a afirmação não possa ser compreendida, mesmo em uma leitura superficial, mas porque provoca na mente humana indagações derivadas de sua compreensão dos processos que permitem o surgimento e a manutenção da vida neste mundo.

Seres finitos, lidando com o infinito e, muitas vezes, procurando oferecer uma explicação para os mistérios que cercam a Divindade, naturalmente tropeçam em sua própria finitude, levando alguns a resvalar para a descrença e a rejeição das simples afirmações bíblicas. Se Deus estava “no princípio”, o que existia antes dEle? Esta é uma pergunta que, da perspectiva da revelação, é falsa, porque daria a impressão de que alguma “coisa” existiria antes de Deus. Na verdade, não existe um “antes” de Deus. Deus é, e dEle todas as coisas derivam sua existência.

Deus é eterno. Mas, o que significa “eterno”, ou “eternidade”? Original: hebraico olam e grego aion. O termo em si aponta simplesmente para a duração de alguma coisa. O significado depende do objeto a que está vinculada a palavra: se aos seres humanos, sua duração está limitada ao tempo de vida de alguém (e.g. Dt 15:17); se a referência é aos montes eternos (Gn 49:26), então, sua duração está limitada aos aspectos geológicos envolvidos ou qualquer alteração na crosta terrestre. Por outro lado, quando a Bíblia aplica o termo a Deus, o termo deve ser compreendido em seu sentido absoluto. Daí resulta o problema para os seres humanos, que raciocinam apenas em termos de princípio e fim, de entender essa auto-existência absoluta de Deus, que não tem começo nem fim.
Uma observação adicional com respeito à relação entre tempo e eternidade: Em geral, influenciados pela filosofia grega, interpretamos os conceitos de tempo e eternidade como sendo qualitativamente diferentes ou existindo em diferentes dimensões. Um dito popular ilustra o que foi mencionado: “Deus está no tempo, mas o tempo não está em Deus”. Desta forma, a eternidade é vista como a total ausência de tempo. A implicação é que a eternidade de Deus O mantém afastado de qualquer evento temporal ou histórico.

Entretanto, as referências bíblicas à eternidade de Deus evidenciam que esta se encontra vinculada a um elemento temporal. Isso não significa que a Bíblia identifica a eternidade com o tempo experimentado pelo ser humano. Simplesmente significa que a eternidade de Deus não é estranha ao nosso tempo, ainda que seja qualitativamente diferente. Embora devamos ser cautelosos nesse assunto, parece plausível a definição de que a eternidade é uma experiência divina que envolve tempo infinito em relação ao passado, e tempo infinito em relação ao futuro.

Tendo definido assim o assunto, compreendemos melhor o fato de que “na plenitude do tempo, Deus enviou Seu Filho” (Gl 4:4) – ação histórica e temporal da Divindade, em Sua missão redentiva, para resgatar o homem de seus pecados e oferecer-lhe a perspectiva de uma vida, não mais limitada como a conhecemos, e sim eterna – uma vida sem restrições, sem fim. Um Deus eterno oferecendo vida eterna.

2. Um Deus amoroso

A compreensão do amor de Deus não pode ocorrer a partir de uma avaliação de nossos próprios sentimentos ou experiências. Por ser Deus transcendente, a única forma de alcançar um conhecimento mínimo do divino é mediante Sua auto-revelação nas Escrituras, em geral, e na vida e experiência de Jesus, em particular.

Ao verificar o texto sagrado, encontramos que este revela um “Deus de amor” (2Co 13:11) e o “amor de Deus” (2Co 13:14) por Sua criação. A Divindade (1Jo 3:1; Ef 3:19; Rm 15:30) expressa Seu amor de várias formas pela humanidade, mas, de maneira notável, por engendrar e colocar em operação o maravilhoso e complexo plano da salvação.

Ao definir Deus como “amor” (1Jo 4:8), a Bíblia apresenta claramente a realidade de que Deus Se relaciona com Suas criaturas. Mas o relacionamento originalmente pretendido por Deus foi interrompido quando um elemento estranho se introduziu nesta relação. Este elemento se define na Bíblia como “pecado”. De acordo com Isaías 59:1, 2, um dos resultados do pecado é a separação entre a criatura e o Criador. O amor, entretanto, não se conforma com a separação. Daí a manifestação do amor, na vida e na obra de Jesus Cristo, para colocar fim à inimizade iniciada pelo pecado e restaurar o relacionamento quebrantado.

O amor divino se revela na encarnação de Jesus e em Sua morte expiatória. Nas palavras do apóstolo, “Deus prova o Seu amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5:8). Somos totalmente indignos desse amor, que flui de Sua própria essência, Seu próprio ser. Ele não nos ama por causa disto ou daquilo. Pelo contrário, ele nos ama apesar de sermos pecadores e indignos. Não impressiona, portanto, que os escritores bíblicos manifestassem seu espanto por tamanha evidência de amor. Esse amor levou o Pai a entregar o Seu único Filho (Jo 3:16), um ato extremo de auto-negação em favor de outro, no caso, toda a humanidade, não importando a condição de ninguém, mesmo daqueles que, a juízo do homem, são indignos de qualquer manifestação de amor.

Em Mateus 5:48 encontra-se um dito de Jesus que, analisado dissociadamente do contexto, pode levar a conclusões equivocadas. A perfeição aqui requerida dos seguidores de Cristo, segundo o contexto, é a manifestação de amor para com os semelhantes. Jesus também disse que o amor identifica os Seus verdadeiros discípulos: “E nisto conhecerão todos que sois Meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13:35). Devemos avaliar nossa posição como crentes levando em consideração a forma como expressamos amor para com o nosso próximo.

3. Deus como Criador


Não existe dúvida: Deus é o Criador. Do Gênesis (1; 2) ao Apocalipse (14:7) as Escrituras ensinam que Deus é o Criador dos céus e da terra. Deus é vida, e tudo o que existe no Universo deriva sua existência de Deus. A criação ocorreu pela vontade e sabedoria divina, independente de qualquer princípio alheio a Deus, como matéria ou energia física. Isso contradiz frontalmente o modelo evolucionista, que defende a idéia de um surgimento acidental, em primeiro lugar das coisas inanimadas, seguidas pelas animadas, incluindo o ser humano. Assim você se torna obra do acaso, um acidente cósmico.

Numa perspectiva totalmente distinta, a Bíblia afirma a dignidade do ser humano como tendo sido obra de um Deus amoroso e eterno, o que confere a cada pessoa um senso de pertencer a alguém que desejou sua existência. Somos criaturas de um Deus que nos ama.

Na perspectiva bíblica, o mundo foi criado pela “palavra de Deus” (Hb 11:3). Deus falou e tudo apareceu (Gn 1). “Haja”, Deus ordenou, e houve. Sua palavra tem poder. Quando Deus fala, alguma coisa sempre acontece. Diferentes dos seres humanos, que falam muito, refletem pouco, e realizam menos ainda.
Não se deve confundir Deus, o Criador, com a natureza. O mundo criado é uma realidade diferente de Deus, existe à parte de Deus. Com isto, se rejeitam as idéias panteístas de que Deus é o Universo. Para o panteísta, não há criador além do Universo. O Criador e a criação são duas formas diferentes de ver uma realidade. Deus é o Universo e o Universo é Deus. Em outras palavras, há somente uma realidade.

De igual forma, a concepção de Deus como sendo diferente da criação leva à rejeição do panenteísmo, ou seja, de que Deus está no Universo, assim como uma mente está no corpo. O Universo seria o corpo de Deus. Além do Universo físico, outro pólo para Deus seria Seu eterno e infinito potencial além do universo físico real. Tais idéias são rejeitadas pelo testemunho bíblico.

O poder criador de Deus também se revelou, de forma especial, após a entrada do pecado no mundo. Necessita-se de um poder exterior ao próprio homem para transformar os pecadores e recriá-los segundo a imagem de Deus (2Co 5:17; Gl 6:15; Ef 4:24). Em Gênesis 1:1, o verbo usado para a criação realizada por Deus é bara, reservado apenas para Deus nas Escrituras. Por esta razão, no Salmo 51, quando Davi pede a Deus um novo coração, ele usa este mesmo verbo: “Cria (bara) em mim, ó Deus, um coração puro...”. Deus pode recriar o homem pelo Seu poder. Como mencionado na Lição, “a expiação é a solução de Deus para o problema do pecado dentro dessa criação. Em vez de nos deixar colher as conseqüências do pecado e da rebelião, que seria a destruição eterna, Ele instituiu o plano da salvação”. Se, no princípio, Deus criou por Sua palavra, agora, neste momento da história da salvação, Deus recria pela Sua Palavra encarnada, isto é, Jesus (Jo 1:1, 12, 14).

Finalmente, a Bíblia nos apresenta um Deus amoroso, eterno, criador e salvador, que culminará Sua obra em favor da humanidade criando “novos céus e nova Terra” (Is 65:17; Ap 21:1-5), que será o lar eterno daqueles que voluntariamente permitiram que Deus, utilizando Seu maravilhoso poder, os recriasse segundo a Sua imagem.

4. Deus santo


No Antigo Testamento, Deus é o santo por excelência. Ele é louvado por Sua santidade (Êx 15:11). Os Salmos e Isaías freqüentemente se referem a Deus como o Santo (Is 1:4; 5:19; Sl 99). Na visão de Isaías, os anjos cantam a Deus como “Santo, santo, santo” (Is 6:3). No Novo Testamento Jesus Se dirige a Deus como “Pai Santo” (Jo 17:11), na Oração do Senhor encontramos a petição “Santificado seja o Teu nome” e, no Apocalipse, repete-se o tríplice “Santo” de Isaías (cf. Ap 4:6-10). A idéia básica da santidade é a diferença. Deus é diferente dos seres humanos. Por esta razão, somos levados a adorá-Lo. Se Ele fosse apenas um ser humano exaltado, não poderíamos louvá-Lo.

Uma pergunta: Se Deus é totalmente santo, como podemos nós, pecadores, nos relacionar com Ele? Que pensamentos vêm à nossa mente ao sermos confrontados com a idéia de que servimos a um Deus santo? Os servos de Deus do passado, a quem foi dado o privilégio de contemplar as glórias celestiais, sentiram-se indignos disso (e.g., Isaías). Daniel e João ficaram sem forças. Como será possível que os seres humanos um dia se juntem aos santos anjos na adoração a Deus? O próprio Deus proveu a solução para o dilema. Em Jesus Cristo, é oferecida a santificação para todo aquele que o desejar. Isto possibilita a adoração neste mundo e na vida porvir.

A santidade de Deus O leva a reagir contra o pecado, enquanto Seu amor pelos pecadores O impele em uma busca para solucionar o problema causado pelo pecado. O resultado disto é o processo de expiação-propiciação. Deus é santo. O pecador não pode sobreviver à vista de um Deus assim. Cristo sofreu e morreu em lugar do pecador e, assim, satisfez “o preceito da lei” (Rm 8:4), removendo o obstáculo para que se concedesse perdão ao culpado. A santidade de Deus exigia que a penalidade pelo pecado fosse executada. O amor levou Deus a tomar sobre Si mesmo a penalidade. Como afirma o apóstolo Paulo, “Deus... nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo... Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo” (2Co 5:18,19). Desta forma, o perdão e a salvação eterna foram oferecidos a “todo o que nEle crê” (Jo 3:16). Assim se transpõe o abismo introduzido pelo pecado, e a relação rompida entre Deus e o homem pode ser restaurada. A santidade de Deus exigia a morte do pecador; Jesus Cristo, “Aquele que não conheceu pecado, Ele O fez pecado por nós” (2Co 5:21), tendo “morrido por nós” (Rm 5:8), e assim “fomos reconciliados com Deus mediante a morte do Seu Filho” (Rm 5:10). Na cruz se manifesta de maneira inequívoca a santidade do amor de Deus e o amor do santo Deus se revela. É na cruz que a justiça e a misericórdia se encontram. Nas palavras de João, “nisto consiste o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou, e enviou o Seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (1Jo 4:10). É a cruz que revela maravilhosamente o inabalável amor de Deus pelos pecadores, assim provendo Ele mesmo o Dom do Céu, que cancela a culpa do pecador e torna o indigno herdeiro com Cristo dos dons celestiais.

5. Deus onisciente

A onisciência de Deus é afirmada inequivocamente por João: Ele “conhece todas as coisas” (1Jo 3:20). Da mesma forma, o apóstolo Paulo afirma que “nada, em toda a criação, está oculto aos olhos de Deus. Tudo está descoberto e exposto diante dos olhos” do Senhor (Hb 4:13, NVI). A onisciência de Deus inclui o mundo (Jó 38:33; Gn 1:31), assim como os seres humanos e suas ações livres (Sal 44:21; 139:1-5; Mt 6:8, 32).

A presciência divina também é afirmada claramente nas Escrituras (Is 46:9,10; cf.41:21-24; 44:6-8). Desta forma, a onisciência divina inclui não somente o passado e o presente, mas também o futuro, quer esse futuro envolva as ações de Deus, quer as escolhas livres do homem. Assim, rejeita-se a noção de que o futuro está aberto (teologia do processo) e o resultado pode ser diferente daquele que é afirmado nas Escrituras, ou seja, a vitória do Cordeiro e daqueles que se encontram com Ele (Ap 17:14). A forma desse conhecimento de Deus, entretanto, pertence ao nível da natureza divina.

E qual a relação da onisciência de Deus com a doutrina da expiação? É importante manter em mente que a expiação não foi uma espécie de plano B elaborado a partir de um imprevisto no programa original de Deus. Visto que Deus sabe tudo, o pecado não foi algo que O apanhou de surpresa. O plano divino para lidar com o problema do pecado foi formulado antes mesmo de seu surgimento na Terra, e está enraizado no amor eterno de Deus pela humanidade (Jr 31:3). Antes de criar qualquer criatura neste mundo, Deus Se preparou para enfrentar e derrotar o pecado e suas conseqüências. E como faria isto? Jesus Cristo, que é Deus eterno, encarnaria para viver e morrer pelo ser humano e, assim, solucionar o problema causado pelo pecado. Nas palavras registradas pelo vidente de Patmos, Ele é “o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Ap 13:8).

Deus Se arriscou pela humanidade. Tendo em vista a morte de Seu próprio Filho, ainda assim Ele levou adiante Seus planos referentes à humanidade. Como um Ser onisciente, sabia avaliar a dimensão da tragédia. Mas Seu amor não conhece limites. Por esta razão, cada um de nós pode olhar para a frente cheio de confiança: há um Deus eterno, criador, santo, e todo amor, que pôs em marcha um plano eterno para a salvação de todo aquele que crê em Jesus. Essa certeza preenche o vazio da existência humana, elimina a culpa do pecado e ilumina o futuro com a esperança triunfante da eterna salvação em Cristo.

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