sábado, 8 de novembro de 2008

A Expiação em Símbolos (Parte 1) - 08/11/2008 a 08/11/2008

RESUMO SEMANAL - 02/11/2008 a 08/11/2008

A Expiação em Símbolos – I


Pr. João Antonio Alves
Professor de Teologia do IAENE

Verso Para Memorizar: “Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de Cordeiro sem defeito e sem má­cula, o sangue de Cristo” (1Pe 1:18, 19).

Pensamento-chave: Mostrar como o sistema sacrifical do Antigo Testamento apontava para o sacrifício de Cristo.

Já temos visto nesta série alguns aspectos fundamentais para a compreensão de um assunto tão grandioso como é a doutrina da expiação. O primeiro deles, naturalmente, aponta para Deus, com Seus atributos, passando pelo surgimento da crise cósmica, a queda em pecado, o anúncio da expiação a diversos personagens bíblicos, entre outros. Nesta lição, veremos um pouco da didática divina, o ensino acerca do sistema sacrifical, com sua abundância de sangue derramado. Alguém mais sensível poderia se sentir afetado ao se inteirar de como se processava o ritual, e perguntar por que era necessário derramar tanto sangue. Na verdade, esta era uma ilustração que visava impactar poderosamente o pecador com a conseqüência do pecado: “O salário do pecado é a morte” (Rm 6:23). Alguém pecou – alguém tem que morrer. Se o homem pecou, deveria morrer. Visto que Deus não deseja a morte de ninguém, idealizou um plano para resgatar o homem desse destino inevitável. Neste plano, Jesus assumiria o lugar do ­culpado pecador, daria Sua vida para que o homem pudesse viver. No sistema do santuário, Cristo era simbolizado de forma especial pelo cordeiro sacrifical. “Sem derramamento de sangue não há remissão” (Hb 9:22). Ele é “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29). Esta é a razão pela qual o sangue era derramado: mostrar a seriedade do pecado, o terrível mal resultante, que exigia a morte não apenas do animal sacrifical, mas também a morte do próprio Filho de Deus. O estudo desta lição deve levar-nos humildemente a refletir acerca da morte de Jesus e como estamos avaliando Seu sacrifício em nosso lugar.

Expiação e sacrifícios de animais

O sacrifício de animais teve sua origem logo que o homem pecou. No relato de Gênesis 3, o homem pro­curou cobrir sua nudez com folhas de figueira (Gn 3:7). Essas folhas simbolizam o esforço humano para solucionar o problema causado pelo pecado. São símbolo da salvação pelas obras. Mas as obras humanas não são aceitáveis diante de Deus. O assunto é extremamente grave. Mas a nudez do homem não era simplesmente física; era também espiritual. Assim, a solução para o homem dependia da ação divina. E Deus agiu, fazendo roupas de pele para cobrir a nudez humana. Embora o texto não mencione, naturalmente está implícito o sacrifício de um animal. A pele era de um animal, que teve que morrer para suprir a necessidade do homem. Posteriormente, a Bíblia relata o sacrifício oferecido por Abel. Gênesis 4:4 faz referência à gordura do sacrifício de Abel, o que implica na morte do animal. Nesta condição, o próprio pecador deveria sacrificar a vítima. No ritual levítico, o pecador oferecia o sacrifício (Lv 4:29). Assim, era impressionado fortemente com a gravidade do seu pecado. Da mesma forma, Adão sacrificou o animal que proveu a pele para sua vestimenta.

A propósito dessa ocasião, Ellen White observa: “Para Adão, a oferta do primeiro sacrifício foi uma cerimônia dolorosíssima. Sua mão deveria erguer-se para tirar a vida, a qual unicamente Deus pode dar. Era a primeira vez que testemunhava a morte, e sabia que se ele tivesse sido obediente a Deus não teria havido morte de homem ou animal. Ao matar a inocente vítima, tremeu com o pensamento de que seu pecado deveria derramar o sangue do ima­culado Cordeiro de Deus. Esta cena lhe deu uma intuição mais profunda e vívida da grandeza de sua transgressão, que coisa alguma a não ser a morte do amado Filho de Deus poderia expiar.” (Patriarcas e profetas, 64).

No sacrifício do animal no Éden, encontramos uma revelação de Deus como o Redentor da raça humana. Em Sua misericórdia e graça, Deus poupou Adão e Eva da morte inevitável (Gn 2:17), porque Ele mesmo proveu um meio de redenção. A sentença de morte foi transferida do pecador para o substituto – o animal sacrifical. Desta forma, a ruptura do relacionamento, como resultado do pecado, pôde ser restaurada. O sangue do animal trouxe vida e reconciliação. Igualmente, o sangue de Cristo nos dá vida e somos reconciliados com Deus, para viver em Sua presença, cobertos com a justiça de Cristo.

Pecado e impureza

Deus é santo. Sua santidade O mantém separado do mundo de pecado e morte, que é o ambiente natural do ser humano. Mas Deus, graciosamente, estabeleceu com o homem um concerto e lhe ofereceu a oportunidade de voltar a se relacionar com Ele. Nesse concerto, o homem é chamado a imitar a santidade de Deus mediante a observância da lei do concerto (Lv 19:2; 20:7-8). E como poderia este concerto ser rompido? Por meio do pecado e da impureza.

No contexto do santuário, três palavras para pecado são importantes. A primeira (ḥēṭ’) entende o pecado como uma falha em obedecer à lei do concerto (Lv 4:2; Is 42:24). A segunda (‘āwôn) designa o pecado como uma perversão do que é direito (Jó 33:27). A terceira (peša‘) expressa a verdadeira natureza do pecado, ou seja, crime, rebelião. Teologicamente, esta palavra define pecado como ato de rebelião contra o concerto e o Senhor do concerto (Is 1:2; Jr 3:13; Am 2:4, 6-8).

Com relação à impureza, é importante destacar seu significado metafórico, isto é, de alienação. A pessoa “impura” era alienada, afastada da comunidade do concerto. Desta forma, era impedida de conviver com a própria família, um fato agravado pelo seu afastamento do santuário. O impuro não tinha acesso ao santuário, aos benefícios espirituais providos pelo ritual do santuário. Dito de outra forma, o homem impuro poderia ser considerado morto, tanto social como espiritualmente.

Como solucionar o caso das pessoas pecadoras/impuras? O caminho era o sistema do santuário. O perdão dos pecados (Lv 4:20) e a purificação (Lv 12:8) eram oferecidos no santuário. O pecador arrependido deveria levar uma vítima sacrifical (Lv 5:5-6). Isso revelava que a quebra do concerto era algo muito sério, e não podia ser tratada levianamente. Toda violação do concerto exigia uma reparação. Como o homem não tinha como reparar seu ato de rebelião, Deus instituiu as formas legais, no sistema do santuário, para reinserir o pecador nas bênçãos do concerto. Em resumo, aqui temos a manifestação do amor de Deus aos pecadores. Apesar da infidelidade do ser humano para com o concerto, Deus, em Seu amor, provê o substituto, simbolizado no animal sacrifical, para continuar estendendo sobre o pecador todos os benefícios oriundos de uma relação com o Criador de todas as coisas. O santuário é o lugar do perdão e da salvação.

Os sacrifícios

As Escrituras Sagradas não deixam lugar a qualquer dúvida acerca da condição do ser humano. Como disse o apóstolo Paulo, “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3:23; cf. 5:12). Partindo dessa triste certeza, o ritual levítico prescreve o que se deve fazer em caso de pecado por parte do sacerdote, de toda a congregação, do príncipe e, finalmente, de alguém do povo em geral. Todos são pecadores. Para todos eles, porém há uma solução. A salvação é inclusiva. Ninguém é deixado de fora, seja por sua posição na sociedade, sua função, etc. Esta inclusividade pode ser vista na prescrição das ofertas pelo pecado, que dependia da situação financeira do indivíduo: uma cordeira ou cabrita (Lv 5:6), ou duas rolas ou dois pombinhos (v. 7), ou ainda uma oferta que não incluía sangue, visto a situação de extrema pobreza do pecador: a décima parte de um efa de flor de farinha (v. 11). Em resumo, ninguém podia alegar qualquer des­culpa a fim de não comparecer diante do Senhor. O caminho do santuário estava sempre aberto a todos. O mesmo é verdade em nossos dias. Não há des­culpa. Aquele que comparece, recebe perdão e é reintegrado à comunidade do concerto.

Um aspecto que não deve ser esquecido é que se exigia perfeição nos animais oferecidos em sacrifício. A razão para isso é que eles apontavam para Cristo, a oferta sacrifical por excelência. O apóstolo Pedro deixa isto bem claro quando afirma que fomos resgatados pelo “precioso sangue, como de Cordeiro sem defeito e sem má­cula, o sangue de Cristo” (1Pe 1:18, 19). Não é possível ao homem oferecer alguma coisa por si mesmo, visto que é naturalmente imperfeito. Somente o Substituto celestial pode fazer expiação pelos pecados da humanidade pecadora. Ao homem compete aceitar a oferta graciosamente oferecida pelo Céu em seu favor.

Um erro muito comum é o indivíduo imaginar que, antes de comparecer diante do trono da graça, necessita “melhorar” a vida, “corrigir” algumas coisas, para então ser aceito por Deus. Nada mais equivocado. Vamos a Cristo como estamos, com o coração contrito, arrependido. Não importa qual seja o pecado. Em Cristo há perdão para todo aquele que humildemente reconhece seu estado e clama pela misericórdia divina. O Céu se alegra com o retorno do filho pródigo ao lar paterno. Ninguém andou tão longe que não possa voltar. Basta querer. Reconheça. Volte. Ele está esperando você!

Remoção do pecado/impureza

O santuário funcionava, por assim dizer, 24 horas por dia. Naturalmente, isto não deve ser tomado literalmente, no sentido de que havia plantão noturno, para atender a algum penitente que se atrasasse devido a seus compromissos. Mas a oferta sacrifical estava sempre queimando sobre o altar, simbolizando o perdão disponibilizado continuamente a todo pecador (Êx 29:38-42). Em termos de funcionamento, entretanto, os sacerdotes ministravam no pátio e no lugar santo do santuário em favor do povo de Deus. Os sacerdotes também atendiam os pecadores que traziam seus sacrifícios e buscavam expiação pela mediação dos sacerdotes. Alguns aspectos devem ser destacados nestas cerimônias, como a imposição de mãos e o rito de manipulação do sangue.

O ato de impor as mãos sobre a vítima simbolizava a transferência do pecado, do pecador para a vítima. Isto é explicitamente declarado com relação ao bode para Azazel (Lv 16:21). Como resultado, a vítima era morta. Pecado e morte. Dupla inseparável.

Seguindo-se a morte do sacrifício, o que era feito com o sangue ou com a carne? Em alguns casos, o sacerdote tomava o sangue e o manipulava de uma forma específica, aspergindo-o sete vezes diante do véu do santuário ou colocando-o sobre os chifres do altar de incenso, derramando o restante na base do altar de holocausto (Lv 4:6-7,17-18) ou ainda colocando-o sobre os chifres do altar de holocausto (v. 25, 30). Em outros casos, a carne do animal oferecido deveria ser comida pelo sacerdote oficiante (Lv 6:25,26; 7:6,7; 10:17). Em ambos os casos, seja introduzindo o sangue no santuário, ou comendo a carne do animal sacrifical, o pecado era transferido para o santuário, produzindo sua contaminação – visto que se estava seguindo as leis do santuário com relação aos sacrifícios. Com respeito ao pecador, este estava perdoado. O perdão ocorria quando o sacrifício era oferecido. A idéia é bem concreta: pecado = morte. O pecado era transferido para o animal e o animal morria. O sangue era levado para dentro do santuário, enquanto o pecador se retirava do santuário, perdoado. Não mais se encontrava em estado de alienação, excluído da comunidade do concerto. Era aceito com base na morte do substituto.

Em qualquer dos casos, o importante a destacar é que Deus tinha a solução para o problema do pecado. Deus assumia a responsabilidade. Era uma prefiguração da obra de Cristo. Obviamente, a diferença é enorme entre a obra de Cristo e os símbolos do santuário. Os símbolos não conseguem captar todas as dimensões da obra que seria realizada por Cristo. Não obstante, o ensino é claro: Jesus assumiu a ­culpa pelos nossos pecados, morreu uma única vez, oferecendo um sacrifício perfeito, único, e assim pode colocar-nos outra vez sob o favor de Deus, como filhos amados, perdoados, justificados pelo Seu sangue. Assim como o sacerdote ministrava com o sangue da vítima, Jesus ministra no santuário celestial com base no sangue derramado na cruz. Uma coisa é inseparável da outra. Sacrifício e mediação sacerdotal. Perdão e reconciliação.

Algumas pessoas, às vezes, dizem que não se sentem perdoadas. Considerando o sistema de salvação ensinado pelo ritual do santuário, podemos dizer que ninguém necessita sentir coisa alguma. Tudo o que se espera é que a pessoa creia na promessa de perdão mediante o sacrifício de Jesus (1Jo 1:9). Ele perdoa e purifica. NEle somos novas criaturas, para a glória de Deus.

Outros sacrifícios

Além dos sacrifícios pelo pecado, anteriormente mencionados, ainda outras ofertas deveriam/poderiam ser apresentadas no santuário. Cada uma delas tinha um significado especial que merece ser destacado. Em primeiro lugar temos as ofertas queimadas. Eram assim chamadas porque deveriam ser totalmente consumidas sobre o altar. E qual era sua função? Embora as ofertas queimadas individuais fossem voluntárias, ­cumpriam também uma função expiatória (Lv 1:4). Além disso, a orientação de que deveriam ser totalmente consumidas sobre o altar simbolizava a total consagração do ofertante. Era como se o pecador se colocasse inteiramente sobre o altar, sem nada reter, oferecendo tudo ao Senhor. Era uma oferta voluntária, livre. Representava o ato do coração, de se oferecer, de se entregar. Merece nossa reflexão: quanto estamos dispostos a entregar sobre o altar do Senhor? No caso de Cristo, a oferta perfeita, a entrega foi total. Deu a própria vida. O Senhor espera que estejamos dispostos a Lhe entregar os nossos “corpos por sacrifício vivo, santo e agradável” (Rm 12:1). Uma oferta queimada no altar de Deus.

Também temos as ofertas pacíficas. Estas podiam ser classificadas em ofertas de gratidão, ofertas por um voto e ofertas voluntárias. A oferta de gratidão, ou de louvor, era oferecida em alguma ocasião de regozijo, de gratidão por alguma bênção especial ou por um livramento realizado pelo Senhor. As ofertas pacíficas eram voluntárias, procediam de um coração transbordante de gratidão ao Senhor. Eram de louvor pelo que Ele fez, exaltando Seu amor, Sua bondade e misericórdia pelos Seus filhos. Eram ofertas de cheiro suave ao Senhor. A oferta era dividida em três partes: uma para o Senhor, que era queimada sobre o altar; outra para o sacerdote; e a maior parte era do ofertante, que faria uma festa com seus convidados. Era uma ocasião de alegria, de manifestar gratidão a Deus por Sua misericórdia.

Além destas, as ofertas de manjares consistiam dos principais produtos vegetais da alimentação do povo: farinha, azeite, cereais, vinho, sal e incenso. Parte dessas ofertas era queimada sobre o altar, como cheiro suave, em memória ao Senhor. O restante das ofertas pertencia ao sacerdote. A oferta de manjares simbolizava submissão e dependência; era um reconhecimento de soberania e mordomia, de dependência de Deus. Com isto, se reconhecia que Deus é o mantenedor da vida, que provê o alimento de cada dia. É do Senhor que provêm as bênçãos temporais. O filho de Deus que reconhece este princípio será fiel ao Senhor no trato com suas posses. Se, na oferta queimada, a pessoa se consagrava ao Senhor, na oferta de manjares o pecador consagrava ao Senhor os seus bens.

Tudo o que vimos nesta semana aponta para Jesus: a revelação do santuário se centraliza na pessoa de Cristo. Era uma antecipação de Seu sacrifício expiatório na cruz do Calvário. O santuário era uma revelação do plano da salvação. Expiação em símbolos. Símbolos do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. É a maravilha do amor de Deus em ação, para restaurar a comunhão interrompida por causa do pecado, para ­curar as feridas, para reintroduzir Seus filhos ao favor celestial, oferecendo-lhes Seu perdão, disponibilizando-lhes a salvação.

São símbolos que, mesmo tendo sido apontados pelo próprio Deus, são inadequados em sua representação da realidade: a obra redentora de Jesus Cristo. Mas estes símbolos nos ensinam verdades essenciais para nossa vida cristã. Entretanto, não devemos nos perder nos detalhes dos símbolos e esquecer a realidade que é Cristo. Para Ele devem convergir nossos pensamentos e reflexões. NEle deve concentrar-se o meditar de nosso coração. E Ele deve ser a inspiração de nossa vida como cristãos. Ele é o sacrifício pelos nossos pecados. A Ele devemos consagrar nossa vida como uma oferta queimada para ser inteiramente consumida no altar do Senhor.

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