sábado, 5 de julho de 2008

Para tal tempo como este O apóstolo Paulo - Resumo Semanal 05/07/2008

Jolivê Chaves
Diretor do Departamento de
Ministério Pessoal
Divisão Sul-Americana

I. A origem de Paulo

Quando analisamos o livro de Atos e as cartas escritas por Paulo, se torna muito evidente sua importância para a igreja cristã. Ele foi o maior evangelista e plantador de igrejas do Novo Testamento. Levou as boas-novas do evangelho para grande parte do mundo de então e, além disso, quase metade de todo o conteúdo do Novo Testamento é de sua autoria. Todas essas coisas mostram que, abaixo de Jesus, Paulo foi o personagem de maior influência para o cristianismo.

Paulo tinha dupla cidadania: era romano de nascimento e judeu de sangue. Nasceu na cidade de Tarso, então capital da Cicília, província romana, onde está hoje a moderna Turquia. Tarso era uma cidade grande e destacada. Situada na foz do rio Cidno, se tornou importante porto marítimo do Mediterrâneo. Era também o ponto final de uma estrada que atravessava a Ásia Menor, em direção ao Eufrates. Juntamente com Atenas e Alexandria, Tarso podia se orgulhar de sua universidade. Era igualmente conhecida por seus tecidos de pelo de cabras, usados na fabricação de tendas. Por isso Paulo se dedicou a essa profissão (At 18:3).

A cidadania romana de nascença era muito valorizada. Naqueles dias, ela podia também ser adquirida por dinheiro, ao preço de 500 dracmas, cerca de dois anos de salário de um trabalhador comum. Ser cidadão romano conferia alguns valiosos privilégios: segurança contra açoitamento e a pena de morte sem julgamento (At 22:23-29); direito de votar, fazer contratos, ter um casamento legal e isenção de impostos.

Por outro lado, Paulo também podia apresentar suas credenciais judaicas. Era filho de judeu, da tribo de Benjamim (Rm 11:1). Desde pequeno, havia se mudado para Jerusalém e ali fora criado como fariseu, aos pés de Gamaliel. A palavra anatethrammenos (criado) tem significado bem diferente de pepaideumenos (educado). A primeira dá a idéia de nutrir, da infância até a idade em que a criança começa a receber educação formal. A segunda refere-se à educação propriamente dita. Ou seja, Paulo havia crescido recebendo a mais estrita formação para o farisaísmo, a seita mais severa entre os judeus. Gamaliel foi um grande mestre e havia sido diretor da escola de Hillel, famosa escola de direita entre os fariseus.

Assim, em seu discurso de defesa, Paulo apresentou sua trajetória como fariseu, “extremamente zeloso das tradições de [seus] pais” (Gl 1:14), seguidor da lei, perseguidor da Igreja e representante do Sinédrio, para enaltecer a grande transformação que ocorreu em sua vida após o encontro com Cristo.

II. Paulo: conversão e chamado

Na sua sinceridade como perseguidor, Paulo viajou para Damasco com carta das autoridades judaicas a fim de prender os seguidores do “Caminho” (At 9:1-17). Quando estava próximo da cidade, teve sua primeira visão celestial. (Ele teve, em toda a vida, cinco outras visões (At 16:9; 18: 9,10; 22:17,18; 23:11 e 27: 23, 24).

Desse episódio do encontro de Paulo (até então Saulo) com Cristo, quero destacar duas declarações feitas pelo Senhor. A primeira foi uma pergunta: “Saulo, Saulo, por que Me persegues?” Embora Saulo estivesse perseguindo os seguidores de Jesus, na ocasião, o Senhor disse que era Ele mesmo o perseguido. Em outras palavras, todas as vezes que alguém toca em um filho de Deus, fere o coração do próprio Deus. Isso significa que Ele não está indiferente às nossas lutas e pesares. Quem toca em um filho Seu, “toca na menina de Seus olhos” (Zc 2:8).

Eis a segunda declaração que destaco: “Dura coisa é recalcitrares contra os aguilhões” (At 26:14). O aguilhão é também conhecido como ferrão, aquele instrumento usado pelo fazendeiro para comandar os bois. Quando o boi é tocado pelo aguilhão, geralmente dá coices, pois a ponta afiada lhe fere as carnes. Porém, com o coice a ferida se torna mais profunda e aumenta a dor. A inferência é clara: Saulo estava agindo como um animal insano e dando coices contra os aguilhões usados por Deus para levá-lo à conversão. Mas isso lhe trazia dor e angústia. Ele só seria plenamente feliz quando deixasse de resistir. A questão é: quais foram os aguilhões usados por Deus com esse intento? Penso que houve pelo menos quatro aguilhões:

Primeiro: a pregação que ele ouvia dos apóstolos. Aquelas mensagens relacionando as profecias messiânicas com Jesus eram coerentes e o faziam refletir, pois ele era profundo conhecedor da Bíblia. Mas ele preferia agir como um animal insano e continuar resistindo.

Segundo: a própria reação dos seguidores de Jesus diante da perseguição. Quanto mais Saulo os perseguia, mais cresciam e se fortaleciam na fé. Ele não conseguia entender isso. Era algo que o perturbava e ele tentava sublimar a convicção recebida com maior perseguição ainda.

Terceiro: julgamento e morte de Estevão. Saulo esteve presente no Sinédrio durante o julgamento e viu o rosto de Estevão brilhando como o de um anjo (At 6:15). Depois, participou diretamente na sua morte (At 7:54 a 8:1). Ali, ficou impressionado com a atitude de Estevão e suas palavras finais, que foram muito semelhantes às de Jesus na cruz. Aquelas imagens impregnaram sua mente para o resto da vida. “A fé, a firmeza e a glorificação do mártir não podiam ser apagadas de sua memória. Viram o brilho divino sobre seu rosto; suas palavras atingiram com grande força aqueles que as ouviram; permaneceram na memória deles e testificaram em prol da verdade” (EGW, Paulo o Apóstolo da Fé, p. 22). Mas, ainda assim, Saulo continuava resistindo ao aguilhão de Deus. A angústia interior aumentava cada vez mais e mais, mas ele perseguia a igreja.
Quarto: o aguilhão definitivo foi sua visão de Cristo no caminho de Damasco. Ali, caído ao solo, cego e indefeso, ele se rendeu. Não mais resistiu, não mais “deu coices”. Suas palavras foram “Senhor, que queres que eu faça?”

De fato, não vale a pena resistir a Deus. Não necessitamos esperar até que chegue o momento extremo para só então nos entregarmos incondicionalmente ao Senhor.

Em sua conversão, Saulo recebeu o chamado ao ministério, tornando-se o grande Paulo que conhecemos. Mas, como parte do seu preparo para o apostolado, após seu batismo, ele foi para o deserto da Arábia, onde teve uma espécie de curso de teologia ministrado diretamente por Cristo. Com o texto do Antigo Testamento e a revelação de Jesus Cristo, ele formou seu conceito de Igreja.

Falando sobre essa experiência do apóstolo, Ellen White diz: “A vida de Paulo estava em perigo, e ele recebeu ordens de Deus para retirar-se de Damasco por algum tempo. Foi para a Arábia; e ali, na relativa solidão, teve ampla oportunidade para comunhão com Deus e meditação. Desejava estar a sós com Deus para examinar o coração, aprofundar o arrependimento e preparar-se, pela oração e estudo, para empenhar-se em uma obra que lhe parecia demasiado grande e demasiado importante para realizar. Era um apóstolo, não escolhido pelos homens, mas por Deus, e sua obra foi claramente definida: ele trabalharia com os gentios” (Atos dos Apóstolos, p. 38). Ele pregou aos seus patrícios judeus, mas sua missão principal se tornou evangelizar o mundo gentílico. “Eu te pus para luz dos gentios a fim de que sejas para salvação até os confins da Terra” (At 3:47). O outrora perseguidor logo se tornou o maior apóstolo que o mundo conheceu.

III. Paulo: homem “sujeito aos mesmos sentimentos”

Quando consideramos a história do grande apóstolo Paulo, bem como de outros heróis da Bíblia, temos a impressão de que eles foram totalmente perfeitos. No entanto, não é isso o que a Bíblia revela. As Escrituras põem sob o pecado todos os seres humanos. Somos todos igualmente pecadores dependentes da graça de Deus. O apóstolo Paulo não é exceção. Se houvesse alguém perfeito, essa pessoa não necessitaria da morte de Jesus nem de Seu perdão.

Aliás, é por isso que a Bíblia não omite os defeitos de Davi, Abraão, Moisés e outros, incluindo Paulo. Às vezes, ele parece impulsivo, quase agressivo, como quando se separou de Barnabé por causa de João Marcos, por exemplo (At 15: 36-39). Em outra ocasião, quando estava sendo julgado pelo rei Agripa, ele apelou para César. Sendo cidadão romano, Paulo tinha esse direito (At 25: 11 e 12). Porém, se tivesse esperado e não exigido seus direitos, poderia ter sido libertado mais tarde (At 26:32).

Paulo era dotado de temperamento forte e, como nós, lutava contra o pecado. Ele mesmo disse: “Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço” (At 7:19). Em outra ocasião, ele também disse “Sou o maior dos pecadores”. Ou seja, Paulo estava ciente de sua pecaminosidade. Tinha consciência de suas fraquezas e culpas. Exatamente por isso, dependeu tanto de Cristo. Ao falar de suas lutas espirituais, ele conclui: “Dou graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor” (Rm 7:25).

A experiência de Paulo e de outros personagens que admiramos está descrita na Bíblia para nos servir de exemplo. Assim como eles, só temos esperança na graça salvadora de Cristo. Necessitamos viver uma experiência diária de intimidade com o Senhor através da comunhão. Sem tirar diariamente um tempo para estar a sós com Deus, para ler a Bíblia, meditar e orar, ficaremos totalmente vulneráveis ao pecado. Nossa vitória está na dependência de Deus. É nesses momentos de comunhão que o coração se torna acessível para a ação transformadora do Espírito Santo. Gosto do texto de Ellen G. White, que diz: “Não se herda caráter perfeito e nobre. Não o recebemos por acaso. O caráter nobre é ganho por esforço individual mediante os méritos e a graça de Cristo. Deus dá os talentos e as faculdades mentais; nós formamos o caráter. [Este] é formado por meio de combates árduos e renhidos contra o próprio eu. As tendências herdadas devem ser banidas por um conflito após outro. Devemos esquadrinhar-nos detidamente e não permitir que permaneça traço algum incorreto”(Mensagens aos Jovens, p. 99).

Assim, os exemplos que vimos não devem nos levar a acomodar-nos com o pecado, nem devem nos desencorajar de trabalhar para o Senhor. Ao contrário, a ciência de nossa pequenez e fraquezas deve nos levar a buscar a graça divina em total dependência e fé. Como Paulo, devemos dizer: “Em Cristo somos mais que vencedores” e “Tudo posso nAquele que me fortalece”.

IV. Vida e salvação por meio de Cristo

Paulo foi o grande teólogo da igreja cristã. Escreveu e pregou sobre vários temas, mas o principal assunto por ele defendido foi a crucificação e ressurreição de Jesus. Aos coríntios, ele escreveu: “Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e Esse crucificado” (1Co 2:2). E aos Gálatas: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo” (Gl 6:14). Portanto, a cruz era o tema central de toda a sua teologia.

Ellen White confirma o pensamento Paulino ao dizer: “Há uma verdade central a ser conservada sempre em mente ao esquadrinhar-se as Escrituras – Cristo e Ele crucificado. Toda outra verdade é investida de influência e poder correspondentes a sua relação com esse tema. ... O coração paralisado pelo pecado só pode ser dotado de vida pela obra realizada na cruz pelo Autor de nossa salvação” (A Fé Pela Qual Eu Vivo, [MM, 1959] p. 50).

A cruz estava no centro do pensamento Paulino e deve estar também no centro de nossa vida e pregação. A imagem do que Cristo fez por nós na cruz deve nos levar a uma dupla reflexão: primeiro, sobre a gravidade do pecado. Foi meu pecado levou o Senhor do Universo a dispor-Se a morrer na rude cruz.“Sem derramamento de sangue não pode haver remissão de pecados” (Hb 9:22).O pecado é algo grave, portanto, devemos ter muita responsabilidade para com as coisas espirituais, pois Deus trata seriamente o pecado.

Em segundo lugar, a cruz nos faz refletir sobre o amor de Deus. Se o Senhor do Universo Se dispôs a morrer numa rude cruz em meu lugar é porque tenho um valor infinito para Ele. O ser humano não pode, por si mesmo, vencer o pecado. Por isso, por amor, Deus providenciou um meio de nos perdoar e libertar. “Libertos do pecado, fomos feitos servos da justiça” (Rm 6:18).

A experiência da conversão [o momento em que a pessoa decide entregar a vida a Jesus em renúncia ao pecado], normalmente se dá quando alguém consegue enxergar o quadro da cruz. A imagem da cruz, revelando a gravidade do pecado e ao mesmo tempo o grande amor de Deus, como um ímã atrai a pessoa para Deus, levando-a a renunciar ao pecado na disposição de servir ao Senhor. Foi isso que Jesus disse a Nicodemos e que ele compreendeu somente ao contemplar o Mestre na cruz. Jesus havia dito: “E Eu, quando for levantado da terra atrairei todos a Mim mesmo” (Jo 12:32).
Sobretudo, não podemos nos esquecer de que nosso testemunho por Cristo deve apontar para a cruz. Testemunhar é dizer para as pessoas como era nossa vida antes de conhecer a Cristo, como éramos quando o Senhor nos encontrou, como Ele mudou nossa vida e o que Ele significa para nós hoje. Falamos sobre a paz, o perdão, a harmonia na família, a vitória contra o pecado, a esperança que vivenciamos em Cristo. Nesse caso, testemunhar é ajudar as pessoas que nos cercam a enxergar a cena da cruz, a mesma que mudou nossa vida. À semelhança de Paulo, eu e você devemos ser mensageiros de esperança, colocando a cruz no centro de nossa vida e testemunho!

V. Temas de esperança

Além do tema da cruz, que foi chave na vida e teologia paulina, outros temas foram por ele destacados. Entre tantos, apresentamos quatro, porém não necessariamente em ordem de importância.

O primeiro deles é a Justificação pela fé. Esse é um tema predominante em seus escritos. Ele deixou claro que a salvação é obtida pela graça mediante a fé. Nada do que o ser humano fizer o qualifica para a salvação. Esta consiste em aceitar a justiça de Cristo no lugar de nossa culpa. Ser salvo é ser coberto pela vestes brancas da justiça perfeita de Cristo, em atitude de fé no Seu sacrifício redentivo (Rm 3:21-24; 6:23).

Paulo também fala sobejamente sobre a Santificação. Para ele, embora a salvação seja alcançada pela fé, ela se revela pela obediência. Esta não é a causa, mas a conseqüência da salvação. Como resultado de alguém estar em Cristo, vem a transformação do caráter, manifesta pela obediência aos reclamos de Deus. Se alguém diz que está salvo em Cristo e vive na prática contumaz do pecado, está enganando a si mesmo (Rm 6: 15-18; Ef 2:10). Ellen White diz que “Paulo se tornou completamente consciente de que o conhecimento experimental de Jesus Cristo era para o seu bem presente e eterno. Viu a necessidade de alcançar um padrão elevado” (RH, 18 de julho de 1899).

Outro tema defendido por Paulo é o assunto da Ressurreição. Com base na ressurreição de Cristo, ele defendeu a certeza da ressurreição para a vida eterna para aqueles que morrem crendo no Senhor. Jesus venceu a morte e tornará a trazer Seu dom de vida eterna para Seus filhos fiéis (1Ts 4:13). Por isso, podemos ter esperança e segurança em quaisquer circunstâncias.

Finalmente, destaco também nos escritos de Paulo o tema do amor. Ele escreveu no capítulo 13 de sua primeira carta aos Coríntios declarando que o amor é o dom supremo e termina o capítulo no verso 13 dizendo: “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém, o maior destes é o amor”. Para ele, o amor é um dom de Deus dado pelo Espírito Santo (Gl 5:22).

Conclusão

Penso que a melhor conclusão para a lição desta semana está na própria lição, às paginas 9 e 10: “Paulo constitui um maravilhoso exemplo de que não existe limite para o que Deus pode fazer por nós – embora sejamos humanos e fracos. O ambiente do qual veio Paulo e seus dons inigualáveis o habilitaram a levar as boas-novas sobre Jesus a um campo missionário inteiramente novo. ... Se Paulo pôde fazer isso, por que não nós? Sua origem singular o preparou para uma missão específica. Nossa origem também nos prepara para alguma missão singular quando o Senhor a indicar”.

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