sábado, 14 de março de 2009

Interpretando os Escritos Proféticos- Resumos Semanal - 14/03/2009 a 14/03/2009

INTERPRETANDO OS ESCRITOS PROFÉTICOS
Resumo Semanal - 08/03/2009 a 14/03/2009

Interpretando os Escritos Proféticos
Pr. Renato Stencel
Diretor do Centro White – Brasil
UNASP – EC

I. Introdução

A interpretação dos escritos proféticos é de fato o último passo no processo da comunicação divino-humana e, como tal, lida com a recepção e a compreensão da mensagem revelada por Deus aos Seus filhos. A maneira pela qual os seres humanos percebem, interpretam e finalmente aplicam a mensagem de Deus, é de vital importância para o cumprimento dos Seus propósitos na esfera do Plano da Redenção.

Conforme compreendemos, os que crêem em Cristo Jesus como único Salvador, é a Igreja Remanescente de (Ap 12:17), e como Igreja, foi agraciada com um dom especial, o dom de profecia manifestado na vida e obra de Ellen G. White. Muito embora não creiamos em graus de inspiração profética, reconhecemos e aceitamos que suas mensagens foram inspiradas pela mesma fonte e poder que inspiraram os autores da Bíblia, ou seja, nosso Deus Criador.

Considerando que ambos os conteúdos são inspirados, é coerente pensar que os mesmos princípios de interpretação aplicados para a compreensão da Bíblia devem também ser aplicados para os escritos do Espírito de Profecia. Esses princípios são necessários e essenciais, sobretudo para compreendermos que certos detalhes das instruções dadas por Deus não se aplicam hoje exatamente como foram dados no período dos profetas. No entanto, tal fato não invalida o valor das instruções divinas.

Os registros da revelação simplesmente nos mostram como os princípios foram empregados em determinadas situações. É nosso dever saber aplicá-los em conformidade com as circunstâncias contextuais. Sendo assim, é importante observar que “quando nossa atenção é focalizada nos princípios e em como aplicá-los à nossa vida, estamos ampliando... a eficácia do ensino original. Compreender por que certo conselho foi dado, e ser capaz de aplicar esses princípios gerais, é de maior valor do que saber apenas uma instrução detalhada. Esta pode ser geralmente aplicável ou não. . ., mas os princípios são sempre aplicáveis a cada indivíduo, tempo e circunstância”.(1)

II. Alguns princípios de interpretação da verdade


Atualmente, há no mundo milhares de religiões que utilizam e consideram a Bíblia como a Palavra de Deus. Muito embora todas essas religiões compreendam que a Bíblia seja um livro divinamente inspirado, nem todos interpretam seus escritos da mesma forma. Pode-se observar a existência de inúmeras divergências doutrinárias que, em grande parte, são produto da deficiência ou ausência de um método de interpretação coerente.

A comunicação divina destina-se a seres humanos que, desde a entrada do pecado, têm percepções limitadas e muitas vezes, completamente contrárias às questões vitais que envolvem nossa condição. A Bíblia nos diz que a mensagem divina pode ser mal interpretada e mal empregada (2Pe 3:16). Ao mesmo tempo, o Espírito Santo oferece ajuda àqueles que honestamente querem conhecer a verdade (Ef 1:17-19).

De acordo com o Dr. Knight “a maneira de percebermos e interpretarmos a mensagem de Deus, e finalmente lidarmos com ela, determinará se a mensagem cumpre os objetivos de Deus ao comunicá-la. Se o receptor humano não está disposto a receber a comunicação, ou a apreende de maneira incorreta, ou a rejeita porque ela não satisfaz suas expectativas ou porque ela confronta o indivíduo com mudanças em seu estilo de vida costumeiro, então o propósito de Deus não é cumprido, e esta pessoa é deixada à sua própria sorte”.(2)

Ao buscarmos compreender a Verdade nos deparamos com a palavra Hermenêutica, que etimologicamente significa traduzir ou interpretar. Em suma, hermenêutica é a arte de interpretar o sentido das palavras ‘sobretudo dos textos sagrados’.(3) A seguir, apresentamos alguns princípios extraídos da obra Reading Ellen G. White (Lendo Ellen G. White) do autor George R. Knight, que poderão servir de ferramentas norteadoras para melhor compreensão das verdades reveladas por Deus tanto nos escritos da Bíblia como do Espírito de Profecia.

1. Começar com uma atitude positiva – Primeiro, comece seu estudo com uma prece pedindo orientação e compreensão. O Espírito Santo, que inspirou o trabalho dos profetas através dos tempos, é o único que pode revelar o significado de seus escritos. Segundo, precisamos interpretar e compreender a verdade sem ideias preconceituosas que nos impeçam de visualizar a plenitude dos fatos que Deus almeja nos comunicar. Em terceiro lugar, é necessário eliminar todo senso de dúvida e incredulidade que nos tornem cegos à compreensão das verdades divinas.

Como Ellen White disse, "muitos consideram virtude e indício de inteligência o fato de alguém mostrar-se incrédulo, questionar e contradizer. Os que desejam duvidar têm suficiente oportunidade para isso. Deus não Se propõe a fazer desaparecer toda ocasião para a incredulidade. Apresenta evidências que precisam ser cuidadosamente investigadas com espírito humilde e susceptível ao ensino; e todos devem julgar pela força dessas mesmas evidências" (Testemunhos Para a Igreja, v. 3, p. 255). "Deus oferece suficiente evidência para a mente sincera crer; mas aquele que se desvia do peso da evidência porque há umas poucas coisas que não pode tornar claras à sua compreensão finita será deixado na atmosfera fria e insensível da descrença e das dúvidas questionadoras e naufragará na fé" (Testemunhos Para a Igreja, v. 4, p. 232-233).

Se as pessoas esperarem que toda a possibilidade de dúvida seja removida, nunca irão crer. E isso se aplica tanto para a Bíblia como para os escritos de Ellen White. Nossa aceitação está baseada na fé ao invés de na demonstração de absoluta perfeição. Ellen White parece estar correta quando escreve que "os que mais têm a dizer contra os testemunhos são em geral os que não os leram, assim como os que se vangloriam de sua incredulidade na Bíblia são os que quase nada conhecem de seus ensinos" (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 45-46).

2. Concentrar-se nos temas centrais – Uma pessoa pode ler os escritos inspirados de pelo menos duas formas. Uma é procurar os temas centrais de um autor; a outra é procurar as coisas que são novas e diferentes. A primeira maneira leva ao que pode ser considerado uma teologia central, enquanto a segunda produz uma teologia periférica. Usar uma teologia periférica pode ajudar a pessoa a chegar a uma "nova luz", mas, por fim, tal luz pode mais parecer trevas quando examinada no contexto dos ensinos centrais e consistentes da Bíblia.

Como podemos dizer quando estamos no centro ou nas extremidades do que realmente é importante? Em seu livro Educação, à página 190, Ellen White escreveu: "A Bíblia explica-se por si mesma. Textos devem ser comparados com textos. O estudante deve aprender a ver a Palavra como um todo, e bem assim a relação de suas partes.”

Uma passagem similar sobre o “grande tema central” da Bíblia define o tema fundamental da Escritura de forma ainda mais precisa. Lemos: “O tema central da Bíblia, o tema em redor do qual giram todos os outros no livro, é o plano da redenção, a restauração da imagem de Deus na alma humana.” “Encarado à luz” do grandioso tema central da Bíblia, “cada tópico tem nova significação” (Ibid., p. 125).

Não podemos esquecer que o propósito da revelação de Deus para a humanidade é a salvação. Essa salvação se concentra na cruz de Cristo e no nosso relacionamento com Deus. Toda a nossa leitura necessita ser dentro deste contexto, e os assuntos mais próximos do grandioso tema central são obviamente mais importantes do que aqueles que se encontram na periferia.

É nossa tarefa como cristãos manter nosso foco nos assuntos centrais da Bíblia e dos escritos do Espírito de Profecia ao invés de nos atermos aos temas secundários. Se assim fizermos, os assuntos secundários se encaixarão nos lugares corretos dentro da perspectiva apropriada no contexto do “grandioso tema central” da revelação de Deus para Seu povo.

3. Considerar os problemas de comunicação – O processo de comunicação não é tão simples como podemos pensar a princípio. O assunto estava certamente em primeiro plano no pensamento de Tiago White enquanto ele observava a esposa lutar para conduzir os primeiros adventistas para o caminho da reforma de vida. Em 1868, ele escreveu: "o que ela disser para apressar os lentos, seja o que for, é tomado pelos apressados como motivo para se adiantarem demais. E o que ela disser para advertir os apressados, zelosos e incautos, é tomado pelos lentos como uma escusa para se atrasarem demais" (Review and Herald, 17 de março de 1868).

Quando lemos os escritos de Ellen White precisamos ter constantemente diante de nós a dificuldade que ela enfrentou com a comunicação básica. Além da dificuldade com as personalidades variadas, mas relacionado a isto, estava o problema de imprecisão do significado das palavras e o fato de que pessoas diferentes com experiências diferentes interpretam diferentemente as mesmas palavras.

"Variam as mentalidades", escreveu Ellen White em relação à leitura da Bíblia. "Mentes de educação e pensamento diverso recebem diferentes impressões das mesmas palavras, e difícil é a alguém transmitir a outro de temperamento, educação e hábitos de pensamento diferentes, através da linguagem, exatamente a mesma ideia que é clara e distinta em seu próprio espírito... A Bíblia precisa ser dada na linguagem dos homens. Tudo quanto é humano é imperfeito. Significações diversas são expressas pela mesma palavra; não há uma palavra para cada ideia distinta. A Bíblia foi dada para fins práticos. "Diferentes são as peculiaridades mentais. As expressões e declarações não são compreendidas da mesma maneira por todos. Alguns entendem as declarações das Escrituras segundo sua mente e casos especiais. Prevenções, preconceitos e paixões exercem forte influência para obscurecer o entendimento e confundir a mente, mesmo ao ler as palavras da Santa Escritura" (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 19-20).

O que Ellen White disse sobre os problemas de significado e palavras com relação à Bíblia também serve para seus próprios escritos. A comunicação num mundo decadente nunca é fácil, nem mesmo para os profetas de Deus.

Precisamos ter em mente os problemas básicos de comunicação ao lermos os escritos de Ellen White. Pelo menos, tais fatos devem nos advertir em nossa leitura a fim de que não enfatizemos demais esta ou aquela ideia particular que possa ter chamado nossa atenção ao estudarmos o conselho de Deus para Sua igreja. Desejaremos nos certificar de que lemos extensamente o que Ellen White apresentou sobre determinado assunto e de que estudamos as declarações que possam parecer extremadas à luz de outras declarações que possam moderá-las ou equilibrá-las. Todo estudo dessa natureza, é claro, deve ser feito tendo-se em mente o contexto histórico e literário de cada declaração.

4. Estudar todas as informações disponíveis sobre o tópico – Quando lemos a seleção completa de conselhos que Ellen G. White escreveu sobre um assunto a imagem é completamente diferente de quando lidamos somente com uma parte de seu material ou com citações isoladas. Muitas vezes em seu longo ministério, Ellen White teve que lidar com aqueles que apenas levavam em conta parte de seu conselho.

Ela disse aos delegados da seção da Conferência Geral de 1891: "Quando é conveniente ao seu desígnio, vocês tratam os Testemunhos como se neles cressem, citando trechos deles para reforçar qualquer declaração em que desejam prevalecer. Como é, porém, quando o esclarecimento é dado para corrigir-lhes os erros? Vocês aceitam a luz? Quando os Testemunhos falam contrariamente às suas ideias, então vocês os tratam com desprezo" (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 43). É importante ouvir o conselho na íntegra.

Ao longo desta linha encontramos duas maneiras de abordar os escritos de Ellen White. Uma reúne todo seu material concernente a um assunto. A outra seleciona da obra de Ellen White somente aquelas declarações, parágrafos, ou materiais mais extensos que podem ser empregados para sustentar uma ideia particular. A única maneira confiável é a primeira. Um passo importante para ser fiel à intenção original de Ellen White é ler o máximo possível de conselhos disponíveis sobre um tópico.

E não só devemos basear nossa conclusão no espectro total do pensamento dela sobre determinado assunto, mas essa conclusão precisa estar em harmonia com o teor geral do corpo de seus escritos. Tanto ideias preconcebidas quanto premissas infundadas, raciocínio errôneo, ou outros maus usos de seu material podem levar a conclusões falsas.

5. Evitar interpretações extremadas – A história da igreja cristã está entremeada de pessoas que aplicaram as interpretações mais extremas aos conselhos de Deus e então definiram seu fanatismo como "fidelidade". A propensão para o extremismo parece ser parte integrante da natureza humana caída. Deus tem procurado corrigir essa tendência por meio de Seus profetas.

Embora o equilíbrio tenha assinalado os escritos de Ellen G. White, nem sempre caracteriza aqueles que os leem. Ellen White teve de lidar com extremistas durante todo o seu ministério. Em 1894, ela salientou que "há uma classe de pessoas sempre disposta a escapar por alguma tangente, que deseja apreender qualquer coisa estranha, maravilhosa e nova; mas Deus quer que todos procedam calma e ponderadamente, escolhendo as palavras em harmonia com a sólida verdade para este tempo, a qual precisa, tanto quanto possível, ser apresentada ao espírito isenta do que é emocional, conquanto ainda levando a intensidade e solenidade que lhe convém. Devemos guardar-nos de criar extremos, de animar os que tendem a estar ou no fogo, ou na água" (Testemunhos Para Ministros, p. 227-228).

Quase quatro décadas antes, Ellen White havia escrito: "Vi que muitos tiram vantagem do que Deus mostrou com respeito aos pecados e erros dos outros. Tiram conclusões extremadas do que me foi mostrado em visão, e usam-nas de tal maneira a enfraquecer a fé de muitos naquilo que Deus tem mostrado" (Testemunhos Para a Igreja, v. 1, p. 166).

Parte de nossa tarefa ao ler Ellen White é evitar interpretações extremadas e entender sua mensagem com equilíbrio. Isto, por sua vez, significa que precisamos ler o conselho sobre determinado assunto a partir de ambos os lados do espectro.

Podemos citar como exemplo alguns de seus conselhos sobre certos assuntos que, se forem tirados do seu contexto levarão o leitor a conclusões absurdas.

(a) Moças a arriar cavalos – Nos escritos de Ellen G. White, conselhos como os que recomendam às escolas que ensinem as moças "a arriar e cavalgar" de forma que "estejam melhor adaptadas a enfrentar as emergências da vida" (Educação, p. 216-217);

(b) Mania das bicicletas – A advertência tanto aos jovens quanto aos mais velhos em 1894 para que fugissem da "influência enfeitiçante" da "mania de bicicletas" (Testemunhos Para a Igreja, v. 8, p. 51-52);

(c) Não comprar carros – O conselho a um administrador em 1902 para que não comprasse um automóvel para transportar pacientes da estação ferroviária para o sanatório porque isso era um gasto desnecessário e demonstraria ser "uma tentação para outros fazerem a mesma coisa" (Carta 158, 1902).

Como se pode observar, tais conselhos são claramente condicionados ao tempo e lugar. Outro aspecto da questão de tempo e lugar nos escritos de Ellen G. White é que, para muitos dos seus conselhos, o contexto histórico é um tanto pessoal, visto que ela escreveu para um indivíduo em sua situação específica. Lembre-se sempre de que por trás de cada conselho existe uma situação específica com suas próprias peculiaridades e alguém com suas possibilidades e realidades pessoais. Sua situação pode ou não ser paralela à nossa. Desta maneira, o conselho pode ou não ser aplicável a nós em determinada circunstância.

6. Estudar cada declaração em seu contexto literário – Na seção anterior notamos que é importante entender os conselhos de Ellen White em seu contexto histórico original. Nesta seção examinaremos a importância de ler suas declarações considerando a estrutura literária dos escritos.

As pessoas têm frequentemente baseado sua compreensão dos ensinamentos de Ellen White a partir de um fragmento de um parágrafo ou de uma declaração isolada e inteiramente removida de seu contexto. Portanto, ela escreve que "muitos estudam as Escrituras com a finalidade de provar que suas próprias ideias são corretas. Mudam o sentido da Palavra de Deus para que corresponda a suas próprias opiniões. E também assim procedem com os testemunhos enviados por Ele. Citam metade de uma frase e omitem a outra metade, a qual, se fosse citada, mostraria que seu raciocínio é falso. Deus tem uma controvérsia com os que torcem as Escrituras, fazendo com que se ajustem a suas ideias preconcebidas" (Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 82). Em outra ocasião ela comenta sobre aqueles que ao "separarem... declarações de seu contexto, e as colocarem junto a raciocínios humanos, fazem parecer que os meus escritos apoiam aquilo que na verdade eles condenam" (Carta 208, 1906).

7. Reconhecer o conceito de Ellen White sobre o ideal e o real – Ellen White frequentemente sentiu-se incomodada "pelos que escolhem as expressões mais fortes dos testemunhos e sem fazer uma exposição ou um relato das circunstâncias em que são dados os avisos e advertências, querem aplicá-los a todos os casos... Escolhendo algumas coisas nos testemunhos, impõem-nas a todos, e, em vez de atrair as pessoas, repelem-nas" (Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 285, 286).

Sua observação não só realça o fato de que precisamos levar em consideração o contexto histórico das declarações quando lemos seu conselho, mas também indica que ela pôs algumas declarações em uma linguagem mais forte ou mais enérgica do que outras. Essa ideia nos conduz ao conceito do ideal e do real nos escritos Ellen White.

Infelizmente, muitos de seus leitores deixam de levar este fato em consideração. Concentram-se apenas nas declarações "mais fortes" da escritora, aquelas que expressam o ideal, e ignoram as passagens mais moderadas. Dessa maneira, como notamos acima, escolhem “algumas coisas nos testemunhos, impõem-nas a todos, e, em vez de atrair as pessoas, repelem-nas " (Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 286).

Ellen White tem mais equilíbrio que muitos de seus assim chamados seguidores. Os seguidores genuínos devem levar em conta a compreensão que ela possuía da tensão entre o ideal e o real ao aplicar seus conselhos. Ela teve mais flexibilidade ao interpretar seus escritos do que muitos imaginam. Ela não somente se preocupava com fatores contextuais quando aplicava conselhos a diferentes situações, mas também tinha uma compreensão distinta da diferença entre o plano ideal de Deus e a realidade da situação humana que às vezes requeria a modificação do ideal. Por esta razão, é importante que não ajamos somente com base nas expressões "mais fortes" de seus escritos, procurando impô-las "a todos" (Ibid., p. 285-286).

8. Usar o bom senso – Sabe-se que os adventistas do sétimo dia discordam e às vezes até discutem sobre alguns dos conselhos de Ellen G. White. Esta situação é especialmente verdadeira a respeito das declarações que parecem tão claras e diretas. Uma declaração como esta aparece no Fundamentos da Educação Cristã: "Os pais devem ser os únicos professores de seus filhos até que eles tenham atingido oito ou dez anos de idade" (p. 61).

Essa passagem é uma excelente candidata para uma interpretação inflexível. Afinal, ela é bastante categórica. Não oferece condições nem dá pistas quanto a exceções. Ela não contém nenhum "se", "e", "ou" ou "mas" para modificar seu impacto, mas afirma claramente como fato que "os pais devem ser os únicos professores de seus filhos até que eles tenham atingido oito ou dez anos de idade". Ellen White publicou a declaração pela primeira vez em 1872. O fato de o assunto ter reaparecido em seus escritos em 1882 e 1913, teve indubitavelmente o efeito de fortalecer o que parece ser sua natureza incondicional.

O que é, contudo bem interessante, é que o desacordo sobre esta declaração nos proporcionou talvez o melhor registro que possuímos de como Ellen interpretava seus próprios escritos.

Os adventistas que viviam perto do Sanatório Santa Helena, no norte da Califórnia, construíram uma escola paroquial em 1902. As crianças de mais idade a frequentavam, enquanto alguns pais adventistas negligentes permitiam que seus filhos mais novos ficassem livremente pela vizinhança sem um acompanhamento adequado e disciplina. Alguns dos membros do conselho escolar criam que deveriam construir uma sala de aula para as crianças menores, mas outros afirmavam que seria errado agir desta maneira, porque Ellen G. White havia declarado claramente que "os pais devem ser os únicos professores de seus filhos até que eles tenham atingido oito ou dez anos de idade".

Uma facção do conselho escolar aparentemente achava que era mais importante dar alguma assistência àquelas crianças negligenciadas do que apegar-se à letra da lei. A outra facção acreditava que tinham uma ordem inflexível, um "testemunho direto" ao qual precisavam obedecer. Para dizer as coisas de maneira branda, o assunto dividiu o conselho escolar. Foram então feitos arranjos para uma entrevista com Ellen G. White.

Logo no início da entrevista, Ellen G. White reafirmou sua posição de que o ideal seria a família ser a escola das crianças pequenas. Ela disse: "O lar é tanto uma igreja de família como uma escola de família" (Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 214). Esse é o ideal que pode ser encontrado ao longo de todos os seus escritos. A igreja e a escola institucionais existem para suplementar o trabalho de uma família saudável. Isso é o ideal.

Mas, como vimos na seção anterior, o ideal nem sempre é o real. Ou, em outras palavras, a realidade está muitas vezes aquém do ideal. Assim, Ellen G. White continuou: "As mães devem [mais precisamente, no original, deviam] estar em condições de instruir sabiamente seus filhinhos durante os primeiros anos da infância. Se toda mãe fosse capaz de fazer isso, e tomasse tempo para ensinar a seus filhos as lições que eles deviam aprender no começo da vida, todas as crianças poderiam permanecer então na escola do lar até que tivessem oito, nove ou dez anos" (Ibid., p. 214, 215).

Aqui começamos a perceber como Ellen White lidou com uma realidade que modifica a natureza explícita e incondicional de sua declaração sobre os pais serem os únicos professores de seus filhos até oito ou dez anos de idade. O ideal: as mães "deviam" ser capazes de atuar como as melhores professoras. Mas o realismo se impõe quando Ellen G. White usa palavras como "se" e "então". Ela definitivamente deixa subentendido que nem todas as mães são capazes e nem todas estão dispostas a fazer isto. Mas "se" forem capazes e estiverem dispostas, "todas as crianças poderiam permanecer então na escola do lar".

Durante a entrevista, ela observou que "Deus deseja que lidemos sensatamente com esses problemas" (Ibid., p. 215). Ellen G. White ficava muito perturbada com os leitores que tomavam uma atitude inflexível com respeito a seus escritos e procuravam seguir a letra de sua mensagem enquanto perdiam de vista os princípios que estavam por trás da mesma. Ela mostrou desaprovação em relação tanto às palavras quanto às atitudes de seus rígidos intérpretes quando declarou: "... Minha mente tem sido muito agitada pela ideia: 'Ora, a irmã White disse assim e assim, e a irmã White falou isto ou aquilo; e, portanto, procederemos exatamente de acordo com isso.'" Ela então acrescentou que "Deus quer que todos nós tenhamos bom senso, e deseja que raciocinemos movidos pelo senso comum. As circunstâncias modificam a relação das coisas" (Ibid., p. 217).

Ellen G. White era tudo menos inflexível ao interpretar seus próprios escritos, e é sumamente importante que compreendamos esse fato. Ela não tinha dúvida de que o uso descuidado de suas ideias poderia ser prejudicial. Desta maneira, não é de admirar que ela tenha dito que "Deus quer que todos nós tenhamos bom senso" ao usarmos trechos de seus escritos, mesmo quando expressou tais trechos na linguagem mais forte e mais incondicional.

9. Evitar fazer os conselhos "provarem" coisas que eles nunca pretenderam provar - Ellen G. White jamais reivindicou inspiração verbal para seus escritos ou a Bíblia, nem os classificou como perfeitos ou infalíveis no sentido de estarem livres de erros factuais. A despeito dos esforços de Ellen White e de seu filho para afastar as pessoas de uma visão tão rígida da inspiração, muitos continuaram nessa linha. Ao longo da história da denominação, alguns têm procurado usar os escritos de Ellen White e a Bíblia com propósitos nunca pretendidos por Deus. De idêntica maneira, têm sido feitas para os escritos proféticos reivindicações que transcendem seu propósito.

Lembre-se de que a Bíblia e os livros de Ellen White não foram escritos com a finalidade de ser enciclopédias divinas para fatos científicos e históricos. Antes, eles servem para revelar a irremediável condição humana e nos apontar a solução através da salvação em Cristo. Neste processo, a revelação de Deus provê uma estrutura pela qual podemos entender as várias partes do conhecimento histórico e científico obtido através de outras linhas de estudo.

10. Certificar-se de que Ellen White realmente escreveu a declaração – Há um número considerável de declarações em circulação que têm sido falsamente atribuídas a Ellen G. White. Como podemos identificar tais declarações? A primeira pista de que elas são apócrifas para aqueles que estão familiarizados com os escritos de Ellen G. White é que tais declarações estão frequentemente em desarmonia com o teor geral do pensamento dela.

A maneira mais segura de testar a autenticidade de uma declaração de Ellen White é perguntar pela referência da citação. Uma vez sabendo onde ela é encontrada, podemos verificar se Ellen G. White disse aquilo e também examinar o fraseado e o contexto para determinar se foi interpretado corretamente.

A questão de supostas declarações também ocorreu durante a época em que Ellen G. White ainda vivia. Seu parecer mais completo sobre o problema aparece no volume 5 de Testemunhos Para a Igreja, páginas 692 a 696. Ele pode ser examinado proveitosamente por todos os leitores dos escritos de Ellen White:

Ela diz: "Tomem cuidado em dar crédito a tais relatos" (p. 694). Ela conclui sua discussão do assunto com as seguintes palavras: "A todos os que sentem desejo pela verdade, eu gostaria de dizer: Não deem crédito a relatórios não-autorizados sobre o que a irmã White fez, disse ou escreveu. Se desejam saber o que o Senhor revelou por meio dela, leiam suas publicações. ... não as tomem avidamente nem veiculem rumores sobre o que ela disse" (p. 696).

Conquanto não possamos mais enviar supostas declarações a Ellen G. White para que ela as verifique, podemos entrar em contato com o Centro de Pesquisas Ellen G. White da Igreja Adventista do Sétimo Dia mais próximo para verificar a autenticidade da declaração ou informar-nos sobre outras dúvidas que possamos ter.

Site do Centro White: www.centrowhite.org.br


Bibliografia

1. Jemison, T.H. Prophet among you. Mountain View, CA: Pacific Press Publishing Association, p. 446.
2. Knight, G.R. Como devemos interpretar a mensagem? Apostila do Curso de Mestrado em Teologia do SALT/SUL para a disciplina de Escritos de Ellen G. [White. [Org.] Renato Stencel: Engenheiro Coelho, SP, p. 89.
3. Ferreira, A.B. de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, RJ: Editora Nova Fronteira, p. 889.

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