sábado, 15 de novembro de 2008

Resumo Semanal - A Expiação em Símbolos (parte 2) - 15/11/2008 a 15/11/2008

Expiação em Símbolos – II


Pr. João Antonio Alves
Professor de Teologia do IAENE

Verso Para Memorizar: “Entremos na Sua morada, adoremos ante o estrado de Seus pés” (Salmo 132:7).

Pensamento-chave: Examinar a obra de expiação de Cristo, revelada particularmente no serviço do santuário no Dia da Expiação.

O Dia da Expiação era o clímax do sistema de culto do antigo Israel. Era celebrado apenas uma vez ao ano. Nos rituais prescritos por Deus, e realizados durante todo o ano, era feita provisão para os pecados cometidos pelo povo de Deus. Quando alguém incorria em algum pecado, o rito deveria ser seguido. O pecador era perdoado e restaurado em sua aliança com o Senhor. O ofensor recebia perdão por seu pecado, era purificado, e continuava como integrante do povo da aliança. Mas o resultado deste processo era a contaminação do santuário, em razão dos pecados do povo que eram simbolicamente transferidos para o santuário.

Para resolver o problema da contaminação do santuário, realizavam-se, então, os rituais do Dia da Expiação. Nesse dia acontecia a segunda fase da limpeza/purificação do santuário com respeito a todos os pecados acumulados do povo. Era a conclusão do processo da expiação. Simbolicamente, apontava também para a obra final de Cristo. Esta obra teve início com a oferta perfeita do “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29), seguida de Sua ressurreição, ascensão, entronização e ministério sacerdotal no santuário celestial. Ali, Ele é “ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo, que o Senhor erigiu, não o homem” (Hb 8:2). Ali, Ele conduz a fase final da obra iniciada na cruz do Calvário, para dar fim à grande controvérsia entre o bem e o mal. Para o povo de Israel do passado, o Dia da Expiação era um dia de juízo. Para o povo de Deus do presente, que vive no dia antitípico da Expiação, este também é um tempo de juízo. Deus nos convida a comparecer a Seu santuário, para que, através da fé em Jesus, o perfeito sacrifício, sejamos purificados e, na Sua vinda, façamos parte da comunidade dos salvos, por toda a eternidade.

Santuário e expiação

Conforme visto na Lição 5, a expiação foi anunciada de diversas formas e a distintas pessoas. A promessa da salvação foi apresentada de maneira clara quando Deus Se manifestou gloriosamente no Sinai e revelou o programa divino de redenção para o mundo. No sistema de sacrifícios do santuário terrestre, Deus tornou disponível para o pecador o método divino da redenção humana e da erradicação do pecado do Universo.

A revelação do santuário estava centralizada na pessoa de Jesus. Tudo ali apontava para Sua morte sacrifical na cruz do Calvário e Seu posterior ministério sacerdotal no santuário celestial. O santuário revelava o panorama da redenção e juízo, o amor de Deus pelos pecadores e Sua aversão ao pecado, que seria finalmente eliminado do meio de Seu povo. O santuário israelita era um centro de culto, mediação e sacrifício. Era o lugar por excelência a que os israelitas compareciam para adorar ao Senhor. E, na estrutura do santuário, o tema do sacrifício se destacava, com todos os sacrifícios de animais que ali eram realizados. O altar de sacrifícios, no pátio do santuário, estava associado com a presença do Senhor; através dele, os israelitas tinham acesso a Deus (Sl 43:4). O simbolismo é evidente: a cruz, o altar de Deus plantado neste mundo, onde foi imolado o Cordeiro de Deus, é o caminho a ser seguido por todo pecador. Não há outro. Jesus é o caminho (João 14:6). Somente encontramos a salvação no caminho da cruz, pois ali foi derramado o sangue que nos perdoa e purifica de todo pecado (1Jo 1:9).

Trabalho sacerdotal e expiação

Eram muitas as responsabilidades dos sacerdotes, mas sua principal tarefa era religiosa: servir de mediadores entre Deus e Seu povo. Na carta aos Hebreus, lemos: “Porque todo sumo sacerdote, sendo tomado dentre os homens, é constituído nas coisas concernentes a Deus, a favor dos homens, para oferecer tanto dons como sacrifícios pelos pecados” (Hb 5:1).

Na pessoa do sacerdote, o povo tinha acesso à presença de Deus. A lição era clara: o pecador não podia, por si mesmo, comparecer diante de Deus. Necessitava de alguém que o representasse. O pecado exclui o ser humano do relacionamento de concerto com Deus. O mediador restaura o pacto rompido e restitui a pessoa às bênçãos do concerto. O papel de mediação do sacerdote era revelado de forma clara mediante o sistema de sacrifícios. Conforme expresso no texto de Hebreus 5:1, o sacerdote oferece “sacrifícios pelos pecados”. A tarefa do pecador era matar a vítima sacrifical, só isso. Ele não podia fazer mais nada. Havia pecado e, como conseqüência, o animal morria. A partir daí, o sacerdote assumia o ritual. Era ele quem oficiava os ritos, fosse a queima de parte da oferta, ou, especialmente, a manipulação do sangue. Somente ele tinha acesso ao interior do santuário, enquanto o sumo sacerdote tinha permissão de ir além do véu, para entrar no santo dos santos. O pecador entregava seu caso nas mãos do mediador humano, estabelecido por Deus para este fim. Devido ao seu pecado, o pecador não poderia comparecer na presença de um Deus santo, pois isto causaria sua morte. O sacerdote era a esperança de vida para o pecador.

Isto é especialmente verdadeiro quando entendemos que o sacerdote era um tipo de Cristo, do ministério que o Salvador realizaria em favor dos pecadores. Ele é o verdadeiro e único Mediador (1Tm 2:5). Ele é nosso Advogado (1Jo 2:1) e nosso Intercessor (Hb 7:25; Rm 8:34). Considerando que os escritores inspirados se referem de forma clara e repetidas vezes à obra sacerdotal de Cristo, resulta evidente que o ministério de Cristo no santuário celestial é profundamente significativo para os seres humanos, no contexto do grande conflito entre o bem e o mal. Não deveria causar estranheza, portanto, o fato de que, constantemente, alguém apresente críticas à doutrina do santuário. Trata-se do quartel-general do plano da salvação. Por isso mesmo, a verdade relativa ao santuário está continuamente sendo assaltada pelo inimigo. Quando desviamos o olhar da obra de Cristo no santuário celestial, onde Ele apresenta, em nosso favor, os méritos conquistados na cruz, ficamos sem proteção na luta contra o mal. Nossa única esperança está no que Cristo fez e faz por nós. Por isso, é importante entender a lição ensinada no sistema do santuário levítico, com seus sacerdotes levando diante de Deus os nomes dos filhos de Israel. Hoje, é Jesus quem apresenta nosso nome diante do Pai e de Seus anjos.

Dia da Expiação: I

Nos rituais estabelecidos pelo próprio Deus, o pecador era perdoado/purificado de seu pecado, mas, em contrapartida, o santuário era contaminado. Os pecados confessados sobre o animal sacrifical eram simbolicamente transferidos para o santuário, onde ficavam depositados até o Dia da Expiação, quando os rituais prescritos para esse dia purificavam o santuário de todos os pecados que se acumulavam ali durante o ano. Nesse dia, o santuário era “restaurado à sua original pureza e santidade”.

Os rituais desse dia eram a resposta final de Deus ao problema causado pelo pecado. Observe que, durante o ano, o movimento era de fora para dentro: transferência dos pecados para o animal, que era sacrificado no pátio, e o sangue era levado para o santuário, resultando na sua contaminação. No Dia da Expiação, o movimento era de dentro para fora: santuário>tenda da congregação>altar, “que está perante o Senhor” (Lv 16:16, 18, 20). No caso do bode para o Senhor, é importante destacar que não há nenhuma referência à imposição de mãos ou confissão de pecados sobre a cabeça do animal. O sangue desse bode era um agente de purificação e não de transferência de pecados. Para lidar com o problema dos pecados, transferidos simbolicamente para o santuário por meio de sangue, Deus estabeleceu que mais sangue deveria ser derramado. No primeiro caso, o sangue contaminava; no segundo, purificava.
Como Adventistas, entendemos que desde 1844 estamos vivendo no dia antitípico da expiação. Embora o espaço não nos permita uma análise detalhada dos vínculos entre Daniel 8:14 e Levítico 16, destacamos alguns pontos para consideração:

(1) os animais da visão de Daniel 8, ou seja, o carneiro e o bode, eram usados juntos somente no serviço do santuário no dia da expiação. Assim, desde o começo, a profecia já apontava para o dia da expiação.

(2) Três palavras distintas são usadas em referência ao santuário em Daniel 8 e são, obviamente, termos empregados no contexto do culto israelita:
* (2.a) Mekôn (lugar) para designar os santuários terrestre (Is 4:5) e celestial (1Rs 8:39) de Deus;
* (2.b) Miqdaš (“santuário” – Dn 8:11; Lv 26:2; Sl 68:33-35) refere-se ao santuário como um todo – Na sua maioria, o terrestre; algumas vezes, o celestial. Identifica o santuário como objeto de ataque dos inimigos de Deus (em Dn 8 é atacado pelo chifre pequeno);
* (2.c) Qodeš (qodesh - “Santuário”) – palavra hebraica para santuário usada em Dn 8:14. Esta mesma palavra é usada sete vezes em Levítico 16 (versos 2, 3, 16, 20, 23, 27, 33) para designar o lugar santíssimo do santuário israelita que era purificado no Dia da Expiação. No mesmo capítulo, o lugar santo é mencionado como “o tabernáculo da congregação”. Portanto, o uso da palavra qodesh (santuário) refere-se ao ministério especial de juízo realizado no lugar santíssimo pelo sumo-sacerdote no Dia da Expiação, o décimo dia do sétimo mês do ano religioso israelita. Considerando Daniel 8:14 como se referindo ao qodesh antitípico, i.e., o santuário celestial (comp. Hb 8:1, 2; 9:1-14), podemos concluir que Daniel estava se referindo a um juízo celestial conduzido no lugar santíssimo do santuário celestial. Da mesma forma como havia uma purificação sobre a Terra, também há uma purificação no Céu.

(3) Os seres celestiais mencionados em Dn 8:13 são chamados “santos" (qadôš - qadosh). No AT, o termo usual para “anjos” é malak. Em Daniel 8 se usa qadôš para estabelecer um vínculo com a terminologia do santuário. E onde encontramos um “santo” frente a outro “santo” no santuário? No lugar santíssimo.

(4) Na expressão “sacrifício diário” – hattamid – encontramos uma referência às atividades sacerdotais conduzidas no santuário (é importante lembrar que o substantivo sacrifício não aparece no original; o texto diz apenas que o diário, ou contínuo, isto é, o ministério sacerdotal de Cristo, foi removido pelo chifre pequeno, que estabeleceu um sistema rival de salvação).

Há outros vínculos, mas os apresentados permitem a conclusão de que Daniel 8 é uma profecia acerca do santuário que se vincula, naturalmente, com Levítico, onde se encontram as leis do santuário.

Portanto, ao fim dos 2.300 anos da profecia de Daniel 8:14, teve início o dia antitípico da expiação, a purificação do santuário. O que se esperava do israelita no ritual típico? Algumas atividades deveriam ser realizadas pelo israelita no dia da expiação, e que indicam a nós, israelitas espirituais, qual deve ser a nossa posição neste período solene da história da salvação:

1. “Tereis santa convocação” (Lv 23:27), ou seja, o israelita deveria comparecer ao santuário. Da mesma forma, o israelita espiritual, neste dia antitípico da expiação, deve comparecer, pela fé, no santuário celestial, e contemplar a Jesus, o sumo sacerdote, em Sua obra em favor dos pecadores.
2. Observar este dia como um “sábado de descanso solene” (Lv 23:32), não deveriam realizar nenhuma obra (v. 28). Isto não significa que hoje não se deve trabalhar. A idéia é de repouso em Cristo, repouso da graça, confiando na salvação que só Ele pode oferecer. Entretanto, aquele que é justificado pela fé no sacrifício de Jesus tem alegria em reparar a brecha na lei divina, restaurando a verdade do sábado, não apenas em teoria, mas de maneira prática, em sua vida, não buscando justificativas para a transgressão e, sim, maiores e melhores oportunidades para entrar em comunhão com o Salvador.
3. Afligir a alma (Lv 23:27, 32) – uma atitude que revela humilde submissão a Deus. Envolve jejum (Sl 35:13) e oração, avaliação do coração, tristeza pelo pecado e arrependimento.
4. “Trareis oferta queimada ao Senhor” (Lv 23:27) – como anteriormente visto (Lição 6), a oferta queimada simboliza a total consagração do ofertante, livre e voluntariamente se entregando ao Senhor. Nesse dia antitípico da expiação, quão importante é que todos nos consagremos inteiramente ao nosso Deus.
5. O dia da expiação era uma obra de purificação (Lv 16:30), um chamado à santidade. Para o cristão atual, enquanto o santuário celestial está sendo purificado, cada adorador neste mundo deve ser purificado em seu templo interior (ver Ml 3:1-3; Ez 36:25-28). Essa santificação não deve ser fruto de uma compreensão equivocada da salvação. O Deus que salva é o mesmo que santifica. É obra divina. É por graça. O resultado deve ser para a glória de Deus.
6. Finalmente, quem não se conduzisse convenientemente no dia da expiação seria “eliminado do seu povo” (Lv 23:29). As palavras são ainda mais fortes no v. 30: “Quem nesse dia fizer alguma obra, a esse Eu destruirei do meio do seu povo”.

Vivemos dias solenes. O dia antitípico da expiação está em andamento. Jesus está procedendo aos movimentos finais na obra da salvação. Ele ainda é nosso sumo sacerdote. Somos convidados a comparecer em Seu santuário, para ser perdoados, purificados e transformados em novas criaturas. Não é obra do homem. É obra divina. A nós compete aceitar Sua oferta de graça e redenção.

Dia da Expiação: II

No dia da expiação, três ritos se destacavam: o sacrifício do novilho e do bode para o Senhor (Lv 16), que faziam purificação e o rito do bode para Azazel, que não era sacrificado, mas levado vivo para o deserto, removendo simbolicamente para fora do arraial os pecados acumulados de Israel. Conforme destacado na Lição, este era um rito de eliminação, ou de remoção, dos pecados e impurezas, que não deviam permanecer na presença do Senhor, em Seu santuário.

Quem era representado pelo bode para Azazel? Muita discussão existe acerca deste assunto. Os argumentos apresentados na Lição destacam as razões pelas quais identificamos este bode com Satanás. Não vamos multiplicar os argumentos. Recomendamos a leitura do texto da Lição. Por outro lado, há um aspecto que merece consideração adicional, visto que poderia sugerir algo que contradiz nossa compreensão do papel do bode para Azazel no contexto geral da expiação.

Em Levítico 16:10 se lê: “Mas o bode sobre que cair a sorte para bode emissário, será apresentado vivo perante o Senhor, para fazer expiação por meio dele e enviá-lo ao deserto como bode emissário”. A expressão destacada no texto requer alguma interpretação. O que significa o texto? Será que realmente o bode emissário é parte da expiação que se faz neste dia? Ou haveria outro significado presente aqui? Na verdade, o problema desaparece quando se compreende o uso da preposição hebraica presente no texto. Na interpretação de um autor (Levine, In the Presence of the Lord, 80; citado por Hasel, Redenção Divina Hoje, 33, 39), a expressão “fazer expiação por meio dele” significa “realizar ritos de expiação ao lado dele” ou em proximidade com ele. “O bode expiatório era meramente deixado próximo do altar, enquanto o sacerdote tomava algo do sangue sacrifical [do bode para o Senhor] para utilizar nos ritos expiatórios”. O v. 21 deixa claro que nenhum ritual de expiação era realizado por meio do bode emissário: o bode estava vivo quando Arão confessava os pecados sobre ele. E era assim, com vida, que ele era enviado ao deserto. Portanto, o rito do bode para Azazel era um rito de eliminação dos pecados e impurezas que se haviam acumulado no santuário.

Expiação: o que é?

Conforme destaca a Lição, o verbo hebraico kipper, traduzido em Levítico como “fazer expiação”, expressa a idéia de remoção. O que é removido? No contexto do ritual do santuário, são removidos os pecados e impurezas. No caso dos seres humanos, estes são purificados. Desta forma, os pecados são removidos do caminho, e o relacionamento com Deus é restaurado. Quando o Senhor realiza expiação por nossos pecados, Ele nos separa de nossos pecados a fim de curar nosso relacionamento com Ele. A essência do ministério de Cristo é salvar-nos de nossos pecados (Mt 1:21), não em nossos pecados. Os pecados/impurezas devem ser removidos, porque não são compatíveis com a santidade de Deus. Eles são estranhos a Deus.

Em Levítico 17:11, encontramos outra idéia relacionada ao conceito da expiação. O texto diz: “Porque a vida da carne está no sangue. Eu vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pelas vossas almas: porquanto é o sangue que fará expiação em virtude da vida”. Neste verso está presente a idéia de pagar um resgate. Um pagamento é realizado, de maneira que a vida do substituto (o animal) é aceita em lugar da vida do homem pecador. O sangue do sacrifício é o pagamento pela vida do transgressor, de forma que ele possa continuar vivendo.

A lição é clara: o sangue de Cristo expia nossos pecados, reconcilia-nos com Deus, resgata nossa vida da morte e abre diante de todos as infinitas possibilidades das bênçãos celestiais. E isto é possível porque Jesus entregou Sua vida por nós. Esta é uma realidade muito séria. Não deve ser considerada levianamente. É impossível compreender plenamente o sacrifício de Jesus. Foi o sacrifício do Deus-homem. A morte que nós merecemos, Ele a sofreu para que a vida, que pertence a Ele, seja a nossa herança. Que pensamento! Que inspiração! Mas isto exige uma decisão da nossa parte: entregar nossa vida no altar do Senhor, como oferta de cheiro suave, em gratidão por Sua eterna salvação.

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